sexta-feira, 21 de outubro de 2022

 

Aspeto dos moinhos da Levada, antes das obras de transformação em complexo cultural, que custaram 6 milhões de euros. Previa-se a instalação de três museus -moagem, eletricidade e fundição. Passados mais de 10 anos, onde estão?

Cultura e património

Centro interpretativo de alto luxo

É conhecida aquela chalaça em que o criado rural pergunta ao patrão alentejano "o que é aquilo patrão?", apontando para um avião lá no alto. Atrapalhado, o latifundiário curto de vista, respondeu seco: "Ignoro!" Comentário pronto do criado rural: "Que grande ignoro!"

Assim está o autor desta crónica, perante mais um ajuste direto da Câmara de Tomar. Em 25 de Fevereiro deste ano, celebrou o Município um contrato com a GLORY BOX-Gestão Integrada do Património Cultural, Lda, com sede em Viseu e escritório técnico em Aveiro, para "Aquisição de equipamento para a montagem do "Centro Interpretativo Tomar Templário" no complexo cultural da Levada de Tomar", por 207.515 euros. Que grande Centro de Interpretação! Caro pelo menos é!

Leu bem. "Tomar templário". Também eu estava convencido de que, sendo Tomar do feminino, o modificador (dantes era adjectivo) devia ser "templária". Mas não. Deve ser o novo estilo transgénero, como se diz agora. De qualquer forma, templário ou templária, deve ser coisa de alto luxo, que não deixarei de ir ver, quando estiver de novo em Tomar. Se já funcionar. Porque, note-se a formulação: "Aquisição de equipamento para a montagem..." A montagem está incluída? Faz parte de outro ajuste direto? Qual o montante? 

É que essa da montagem trouxe-me à memória um velho amigo, que pretendeu a dada altura importar espanholas, mas só queria belas peças, para serem montadas em Portugal. Não sei se conseguiu ou não, mas agora os tempos já não estão para isso. Os contribuintes é que entretanto foram transformados em simples peças do sistema, sendo montados de qualquer maneira.

Mesmo tendo em conta que a requalificação dos sanitários da Várzea grande acabou por custar 110 mil euros, sem equipamento de controle de entradas, quando no início integrava o projeto geral, que foi arrematado por 3 milhões, mesmo assim, 207 mil euros mais IVA é muito dinheiro! Em comparação, os 70 mil euros, mais alcavalas, da Festa Templária "pronta a inaugurar", foram uma autêntica pechincha. É fartar vilanagem!

Há um desabafo célebre, atribuído a D. Sebastião, na batalha de Alcácer Quibir: "Morrer sim, mas devagar!". D. Sebastião sumiu, como se sabe. Mas a Câmara está aí, bem viva e gastadora, pelo que conviria adotar um lema semelhante: "Gastar sim, mas devagar!" Só que, não sendo o dinheiro deles, gastam sem travões, como está cada vez mais à vista de todos.

1 comentário:

  1. Os mais de 200 mil euros do citado ajuste direto, para instalar algo não previsto no projeto inicial do complexo da Levada, são apenas a parte visível do iceberg. Há por exemplo um outro ajuste direto de 19.990 euros, para "Aquisição do serviço de desenvolvimento do conceito museográfico... ... e plano de conteúdos para "Centro Interpretativo dos Templários", data do 17 de Novembro de 2020, e foi subscrito com outra empresa de nome inglês, mas curiosamente também com sede em Viseu. Há cada coincidência!

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