sábado, 22 de outubro de 2022

Imagem Tomar na rede (alterada).

Cultura

CLARAMENTE UM CASO 

DE DINHEIRO MAL GASTO

Há em Tomar um clube de cinéfilos, que faculta sessões de cinema de qualidade a preço reduzido (2 euros, na altura), no Cine -Teatro Paraíso, geralmente com início às 19 horas. No verão, organizam também uma série de sessões de cinema ao livre, no relvado da piscina Vasco Jacob. O autor destas linhas teve ocasião de assistir a umas e a outras.

Não estando em causa a qualidade dos filmes ou da respectiva projecção, tendo em conta que gostos não se discutem, verificou-se que as sessões ao ar livre chegaram a ter perto de 100 espectadores. Já as do Cine-teatro eram mais pacatas. Assistiu-se a algumas com apenas dois espectadores pagantes.

Neste quadro urbano, mais próprio de uma pequena aldeia rural, o pelouro da cultura, turismo e acção social, a máquina gastadora da câmara, subscreveu em 30 de Outubro de 2020 um ajuste directo com a empresa FIRST PICK, (uma distribuidora de filmes, de Odivelas, com o capital social de 5 mil euros), para a "Aquisição de serviços e fornecimento de conteúdos cinematográficos para exibição no Cine Teatro Paraíso em Tomar". Valor do contrato 308.823.84€. Leu bem: Trezentos e oito mil, oitocentos e vinte e três euros e oitenta e quatro cêntimos. O custo de, pelo menos, cinco apartamentos pequenos, em Tomar.

Ignora-se o período temporal a que o dito contrato se refere, bem como o restante clausulado, sendo certo que mesmo assim se pode clamar desde já que é um caso óbvio de dinheiro mal gasto. De claro esbanjamento. É pagar cinema ao preço do caviar Beluga. Uma vez que o concelho tem nesta altura menos de 34 mil eleitores, o montante gasto corresponde a 9 euros por cada eleitor. Mesmo os que nunca foram, não vão, nem tencionam ir ao cinema. É queimar dinheiro! Não faz qualquer sentido gastar dinheiro público para oferecer cinema de qualidade, quando não se consegue assegurar, por exemplo, uma limpeza urbana aceitável, ou água a preços razoáveis. Primeiro o básico, o essencial. Só depois o complementar. O oposto do que andam a fazer há 10 anos.

Não teria sido melhor procurar a colaboração da direcção do Cineclube, no sentido de conseguir uma boa programação cinematográfica para Tomar, muito mais barata e sem a mania das grandezas? Ou haverá outros interesses em causa?

Li um dia destes, que a diferença entre um grupo de cidadãos e um rebanho de carneiros é afinal bem simples, para além do aspecto geral. Quando chegam à beira do precipício, os humanos param, porque se assustam, hesitam e recuam. Os carneiros não se assustam. Continuam a caminhar e despenham-se.

2 comentários:

  1. Esta tem de ser mais bem investigada.
    Escrevi sobre o assunto em 13 de março de 2020 e os números não eram nada disso.
    Era um daqueles negócios que se pagavam a si mesmos (!), com o investimento (120 mil euros) a ser feito pela FIRST PICK que fazia as obras, comprava a máquina e ainda dava 20% da bilheteira ao município. Os filmes eram exibidos só ao Domingo e à segunda-feira.
    Sempre achei fartura e a vereadora do pelouro desmentiu-me categoricamente quando admiti a possibilidade de se estar a garantir ao concessionário um número mínimo de espectadores (nesta palavra não sigo o acordo, de propósito).
    E ainda... ao fim de 3 anos o equipamento passava para a Câmara.
    Agora os 308 mil euros deixam-me boquiaberto.
    Quero ver se tenho um bocado de tempo para reconstituir o processo.
    Para começar, deixo um dos muitos anúncios que foi feito na radio Herz, com a presidente na Assembleia Municipal, que antecipa trapalhada da grossa:
    https://radiohertz.pt/tomar-cidade-tera-filmes-em-estreia-nacional-cinema-cada-vez-mais-perto-de-regressar-e-camara-tera-direito-a-20-da-bilheteira/

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  2. Relembro, no entanto, que efetivamente os 308 mil euros já eram referidos, mas com origem na bilheteira e não no orçamento da Câmara. Esta ainda recebia 22% das vendas a troco de assegurar a logística.
    Está a ser assim mesmo? Quem fiscaliza o contrato e divulga os resultados? Qual o balanço que é feito para a renovação ou para o lançamento de novo concurso?

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