Cultura e património
A GESTÃO DOS NOVOS BÁRBAROS
Relata o Tomar na rede, que a Câmara autorizou uma concentração de automóveis de determinada marca, em pleno terreiro relvado do Mouchão. Decerto deslumbrado com tal facilidade, um dos condutores aproveitou para fazer uns piões no relvado, deixando marcas profundas que agora vão necessitar de cuidada manutenção e meses de recuperação. Se a autarquia estiver para aí virada. Quem paga? Os do costume.
Nem as fotografias mentem, nem o acontecimento parece assim tão insólito a quem escreve estas linhas. Estamos numa época em que os formados pelo ensino post25 de Abril, fazem tudo, porque acreditam que tudo lhes é permitido e devido. Em muitos casos, a começar pelos próprios eleitos, que se julgam donos da cidade, sendo para eles o Mouchão, uma espécie de quintal da tia Célia.
Não admira. Deve tratar-se de uma síndrome nabantina, porque os próprios estudantes do Politécnico, que vêm de onde calha, e não são propriamente da fina flor, passados 6 meses de cá estarem, já andam aí pelas ruas, perdidos de bêbedos, a gritar "Tomar é nossa!" Porquê?
Mas Tomar é das mais acolhedoras terras para tal gente, devido à excessiva passividade da sua população. Que se indigna e protesta, mas sempre para dentro, ou tentando usar os outros como emissários. Porque não podem, porque não sabem, ou porque "tenho uma porta aberta...". "Quem tem cu tem medo", diz o povo. E como é bem sabido, desde o falecido Jorge Coelho, "Quem se mete com o PS leva!"
Quando nestas colunas se protestou contra a série de espetáculos musicais no Mouchão, havendo locais mais apropriados para isso, as raras reações foram de apoio implícito à Filipinha gastadeira. Houve até quem se considerasse assaz moderno e com raízes, para proclamar que a defesa do património é coisa de velhos, "e o gajo do Tomar a dianteira está chéché". Pela parte que lhe toca, o escriba agradece o simpático diagnóstico médico.
Outro tanto se passou quando aqui se chamou a atenção para o estado lastimável em que se encontra o salão do piso térreo do turismo municipal, outrora uma das salas de visita da cidade, onde havia "Portos de honra" oferecidos pela autarquia, agora desfigurado com portas de vidro e processos espalhados, tipo escritório desarrumado de jovem advogado rico. A informação local nada disse. Pareceu-lhe natural, certamente. É tudo boa gente.
Outros casos houve, em que se ficou sempre com a impressão de estar a escrever para as paredes. Parece que os tomarenses, mesmo aqueles que ainda lêem e votam, já desistiram. Acomodaram-se e estarão convencidos de que as coisas vão melhorar. Estão enganados, e este lamentável episódio do Mouchão vem provar que quando a opinião pública local deixa andar, as coisas pioram e muito. Tal como acontece com os subsídios, com as festarolas, com a falta de limpeza, com o preço da água, com a falta de informação atempada, com o realojamento dos ciganos, e por aí adiante. O que é que já melhorou? A Várzea grande? Deixa-me rir, canta o outro.
Agora até já a oposição PSD -tão mansa durante os dois mandatos anteriores- se queixa da evidente falta de respeito, e mesmo desprezo, da maioria socialista. É a gestão dos novos bárbaros, que nada respeitam. Nalguns casos por vingança em relação aos mais velhos. Quase sempre por ignorância crassa. Quem não tem maneiras, todo o mundo é seu. Mas como a população da mesma idade parece concordar, resta deixar escrito, para memória futura. Se algum dia vier a servir para alguma coisa, já não terá sido trabalho em vão.
Entretanto: Volta Nini! Eles fizeram-te uma estátua, a conversar com o Lopes Graça, mas estão-se cagando para aquilo que defendias.
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