segunda-feira, 17 de outubro de 2022



Cultura e tempos livres

EVENTOS "À BORLA"? 

OU COM BILHETEIRA?

Parece estar a provocar (finalmente) algum escândalo (ou pelo menos indignação) em Tomar, o espetáculo de Pedro Abrunhosa sem entradas pagas, mas que custou à autarquia 25 mil euros, mais IVA, mais aluguer e montagem do palco, quando há cinco meses em Leiria, durante a Feira de Maio, o mesmo evento teve entradas pagas a 20 euros cada. Não se entra aqui em dissertações sobre a iliteracia económica dos eleitos da atual maioria no executivo municipal. Não é isso que está agora em causa, apesar de ser a origem da presente situação.

Nenhum dos quatro membros do executivo tem formação económica, e nunca exerceram qualquer profissão fora do funcionalismo do Estado. Mentalidade de funcionários portanto, sendo até dois deles filhos de outros funcionários. As dinastias não são só nas monarquias. Em tal situação, deve parecer-lhes preferível que seja o Estado, diretamente ou via autarquias, a ocupar-se da cultura, para evitar abusos dos empresários capitalistas que logicamente visam o lucro. A lógica marxista.

Quanto aos artistas, só não aplaudem com quatro mãos porque têm apenas duas, tal é o entusiasmo. O que se entende. Os empresários privados estão sempre a regatear preços, enquanto no setor público nunca reclamam, uma vez que o dinheiro não é deles, mas dos contribuintes. Cria-se assim a tal situação enganadora. Governo e autarquias tornam-se bastante generosos, dado que se trata fundamentalmente de comprar votos, condição sine qua non para continuar no poder. Dito de maneira mais crua, entende-se que a maioria PS está agora a desenvolver em Tomar a mesma política que o PCP seguiu nas autarquias alentejanas, nos idos de 80 e 90. Com os resultados que estão à vista...

Ainda assim há, entre as autarquias sobretudo, dois grandes grupos. O dos autarcas que sabem de macroeconomia e os outros. No caso que abre esta crónica, Leira integra o primeiro grupo e Tomar o outro. Na cidade do rio Liz, todos os espetáculos musicais têm bilheteira, o que permite à autarquia avaliar na prática a cotação dos artistas contratados, além de ir acumulando um confortável fundo de maneio, para contratações e eventuais malogros futuros, graças ao valor acrescentado.

No exemplo teórico de Abrunhosa, admitamos que o artista (mais acompanhantes, mais palco, mais sonorização, mais IVA) tenha custado 35 mil euros, incluindo despesas de bilheteira. Com entradas a 20 euros, cinco mil espetadores terão deixado 100 mil euros. Um valor acrescentado de 65 mil euros. Nada mau. Houve um bom espetáculo, só pagaram os que assistiram, e ficou-se a saber que Abrunhosa vale 5 mil espetadores pagantes.

Em Tomar, o mesmo evento teve organização diferente. Custou o mesmo que em Leiria, exceto as despesas com bilhética. Pagaram todos, incluindo os que lá não foram, não se sabe quantos assistiram, e portanto ignora-se qual a cotação real de Abrunhosa, em espetáculos "à borla" e, a fortiori, se todos os que assistiram vão mesmo votar PS nas próximas autárquicas.

Mas não se prejudicou ninguém, dirão os obstinados defensores da maioria PS local. Não mesmo? Então e a Rádio Cidade de Tomar, por exemplo, que antes assegurava a animação musical durante a feira, assim realizando algumas receitas para pagar aos empregados, agora faz o quê, para compensar? Já foi generosamente ajudada pela Câmara, não é verdade? Afirmativo. É isso que o PS gosta. Além das borlas, tornar as empresas privadas dependentes da autarquia. Sobretudo na área da informação.

Em conclusão, enquanto Leiria vai realizando eventos com bilheteira, que vão aumentando o fundo de maneio para a cultura e turismo, reservando as transferências de Lisboa e os fundos de Bruxelas para as tarefas essenciais; Tomar vai gastando com eventos sem bilheteira, recursos que depois fazem falta em áreas fundamentais. Tudo com muita alegria, que a ignorância é cega. "Quem não sabe é como quem não vê", diz o povo.

Cabe aqui recordar, de resto, que a maioria PS já fez uma experiência de eventos com bilheteira, para além do Congresso da sopa. Se os leitores bem se recordam, aconteceu aqui há uns anos com as estátuas vivas. Mas quando se verificou que, com  entradas pagas, o total de espetadores tinha sido inferior a metade do anunciado no ano anterior, acabou a experiência. Em Tomar, como bem sabemos, com esta maioria PS, é tudo grandes sucessos. Menos na área da população, que vai continuando a fazer as malas. Ou a calçar os patins.

Um esclarecimento final: 

Em Tomar o PS está no 3º mandato, tem maioria absoluta, vai dando borlas e obteve 39,7% nas autárquicas de 2021, contra 34, 66% do PSD. Em Leiria o PS está no 5º mandato, tem larga maioria absoluta, vai cobrando entradas e obteve 52,47% em 2021, contra 22,38% do PSD. Em política, convencer é uma coisa, comprar votos é outra. Leiria tem 113.000 eleitores inscritos. Tomar ainda tem 33.000. Leiria cresce. Tomar encolhe. Mais comentários para quê?

4 comentários:

  1. Bom dia Profº Rebelo
    Gastos do Município nos concertos na Feira de santa Iria: 64.267,50€
    Falta acrescentar os custos do aluguer do Palco, e de toda a logística de som necessária, que o Município não divulga os seus custos

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  2. Uma ninharia e uma vergonha. Uma ninharia, porque comparado com o orçamento global da autarquia, não chega a 1%. Uma vergonha, um concelho tão rico e tão bem apetrechado como Tomar, gastar assim tão pouco com a cultura. Uns unhas de fome, agarrados, somíticos, é o que é! Rir é o que resta.

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  3. Até estou de acordo que se devia ter armado uma bilheteirazinha. Mas não resisto a uma observaçãozinha.
    Deixe o Karl Marx em paz.
    (E, já agora - os ciganos também. Até parece que se anda a fazer ao piso aos CHEGAnos)
    Prof. Rebelo, largue o vinho.
    Um abraço.

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    1. Deixar o Marx em paz porquê, se é mesmo a sua doutrina que está em causa? Quanto aos ciganos, sempre os deixei em paz e tive até boas relações com o patriarca Pascoal. O que nunca me impediu, nem vai impedir, de dizer frontalmente aquilo que penso. Porque haveria de andar a fazer-me ao piso com o Chega? Para mais tarde irem pôr flores na minha campa? A terminar, essa largar o vinho só pode ser para rir. Quem me conhece, sabe que nunca bebi vinho ou outras bebidas alcoólicas. Nem durante a guerra em Angola. E agora também já estou velho para começar.

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