História local
Carta a um conterrâneo renitente
O José Gaio julgou oportuno recordar a improvável manifestação popular, que há 60 anos forçou o governo salazarista a renunciar ao desvio de água do Nabão, para abastecer Fátima. Transcreveu até parte de uma crónica minha sobre o assunto, no qual participei activamente.
Em circunstâncias normais, responderia ao teu comentário obtuso no Tomar na rede, como seria natural. Sucede, contudo, que fui corrido daquele estimado colega, o que me força a responder aqui. Não porque o assunto seja transcendente, ou a tua posição me surpreenda, mas apenas porque gosto de escrever, de defender a verdade, e de suscitar polémica, quando sei ter razão.
Aos factos. Antes de mais, não cuides que estás em vantagem, devido ao uso de nome suposto. O teu estilo não engana, e creio saber o que te move, caro conterrâneo Fernando. Dito isto, reconheço que o teu comentário é perfeitamente legítimo. Os factos são sagrados, mas a opinião é livre, e trata-se da tua opinião. Realmente, aos teus olhos, e conquanto não o escrevas, a tal manifestação popular de defesa do Nabão, padeceu de uma lacuna grave: não foi fomentada, nem convocada, nem liderada, nem participada pelo então clandestino PCP, do qual faziam parte alguns familiares teus.
Daí a tua vontade de reescrever a história local. O governo não terá tido medo dos tomarenses, mesmo após a manifestação, mas apenas acedido aos pedidos dos donos das então quatro grandes fábricas em laboração no concelho -Fiação, Prado, Matrena e Porto de Cavaleiros- escreves tu.
Pois se é mesmo o que pensas, estás totalmente equivocado. Posso asseverar-te que o salazarismo teve mesmo muito medo da manifestação, porque colei cartazes e nela participei, tendo ouvido depois as partes envolvidas. Conforme bem sabes, os líderes da manifestação encabeçados pelo Nini, eram todos do reviralho local, e inimigos figadais do então major Fernando Oliveira, o representante máximo do salazarismo local. E foi este (que era meu padrinho de baptismo) que admitiu mais tarde ter entrado em pânico, o que o levou a contactar o ministro do interior, então o nosso conterrâneo Arnaldo Schulz, e o próprio Salazar, a quem pediu que abandonasse a ideia do desvio do Nabão. Foi ouvido, e assim acabou a história, que aqui se relata uma vez mais, para memória futura.
Poderás continuar a pensar e a escrever em paz aquilo que entenderes, desde que não tentes confundir factos e opiniões. No caso, como podes constatar, os responsáveis das fábricas em laboração no concelho não foram vistos nem achados. Exactamente como o aparelho clandestino do PCP. É o que te dói, não é?
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