domingo, 20 de novembro de 2022


Turismo

Os templários foram afinal os primeiros "tour operators" ou "voyagistes" - 1

Começa-se pelo vocabulário, para evitar posteriores equívocos. "Tour operator" ou "voyagiste" são dois vocábulos, em inglês e francês, que correspondem respetivamente a operador de turismo ou viagista, em português técnico. Sucede contudo que, entre profissionais e estudiosas da matéria, se usa a terminologia estrangeira, por vezes para alardear conhecimentos que nem existem. Não seria a primeira vez que alguém escreve ou disserta oralmente sobre turismo, sem saber muito bem o que está a dizer, por falta de estudo e/ou de experiência profissional. Há em Tomar alguns exemplos que por piedade se calam.

Esta crónica deve a sua génese a um comentador habitual do Tomar na rede, resoluto adversário do turismo como opção de desenvolvimento para Tomar. Não se indica o pseudónimo que usa, porque é uma opinião que se respeita, mas que de tão insistente e desprovida de fundamentação séria, uma vez que a única acusação do dito comentador reside no fato de hotelaria e restauração criarem sobretudo empregos de baixos salários, levou a reponderar os principais aspetos da indústria turística, tal como se praticou e pratica por esse mundo fora, e na sua versão tomarense.

A prova que o turismo, mesmo nas suas versões atuais, não é assim tão mau como o pintam os arautos dos empregos qualificados e bem remunerados, por exemplo na função pública sentada, é-nos fornecida, imagine-se, pelos próprios templários. Com que intenção aquele pequeno grupo de nove nobres gauleses, filhos segundos, por isso mesmo forçados a buscar meios de vida, em virtude da lei do morgadio, resolveram criar uma milicia cristã em Jerusalém? Para defender os cristãos e os lugares santos (Jerusalém e Belém, sobretudo). Com que meios, uma vez que nem sede tinham no início, e dispunham de apenas um cavalo para dois? (ver imagem). Com os recursos dos próprios cristãos, mais precisamente daqueles cristãos que faziam a peregrinação a Jerusalém, na idade média uma obrigação para todos os fiéis com recursos suficientes.

Como? Transformando-se nos primeiros operadores de turismo daquela vasta área. Esperavam os peregrinos na costa mediterrânica, escoltavam-nos até à cidade santa, forneciam alojamento e alimentação, concedendo mesmo crédito mediante garantias reais quando necessário, para depois os acompanharem no regresso à costa, até ao barco por eles indicado. Foram também os primeiros banqueiros da cristandade, emitindo e aceitando lettres de change, antepassados dos cartões de débito e crédito, tendo obtido previamente para esse efeito uma dispensa papal.

Que o empreendimento resultou, está à vista de todos os que se interessam pela história das ordens de cavalaria. Foram logo imitados por outros grupos de cavaleiros, obtiveram vastas concessões na Europa e, menos de um século depois, já praticavam em Portugal e Castela, designadamente, a segunda fase do projecto: a colonização de feudos concedidos pelos reis. Tomar é o resultado do termo de Ceras, doado aos templários por D. Afonso Henriques, após a conquista de Santarém, para resolver a salganhada a que deu azo.

O nosso primeiro rei pedira ajuda aos templários, mas também a um grupo de cruzados de passagem por Lisboa, representados pelo bispo da cidade. A ambos os grupos prometera a mesma coisa, em caso de vitória: o saque e a posse da urbe. Conseguida a conquista, foi o cabo dos trabalhos, pois todos queriam tudo.

Chegou-se finalmente a um acordo. O bispo de Lisboa, em nome dos cruzados ingleses, ficou com parte do saque e a posse da cidade, excepto da igreja de S. Tiago. Os templários, por sua vez, ficaram com aquela igreja, importante no caminho de S. Tiago de Compostela, a outra parte do saque, e o termo de Ceras (Alviobeira), que mais tarde deu lugar a Tomar.

Mas a primitiva atividade de viagistas ou operadores de turismo, antes do termo existir, continuou, enquanto os cristãos não foram expulsos de Jerusalém, depois de derrotados pelos muçulmanos. E foi extremamente lucrativa. Tanto, que deu origem ao mito do tesouro dos templários. (Continua)


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