sábado, 19 de novembro de 2022

Direito de criticar

Tente senhor Presidente, não fique descontente

Na recente cerimónia de entrega dos prémios Gazeta de jornalismo, organizada pelo Sindicato dos jornalistas, compareceu Marcelo Rebelo de Sousa, na sua qualidade de Presidente da República, mas com o coração de jornalista  do EXPRESSO, criador de factos políticos. A dado passo da sua intervenção, referiu que só pode haver democracia forte com jornalismo forte e concluiu: "Têm todos de aprender isso. Os políticos têm de aprender a aceitar a crítica. Eu tenho de aprender a aceitar a crítica. Todos temos de aprender a aceitar a crítica."

Estranho, muito estranho, inesperado mesmo, ouvir coisas assim, ditas por um dos cérebros do país, com provas dadas. Que não ignorará decerto o velho adágio "Burro velho já não aprende línguas." Em que se baseia, por conseguinte, o ilustre académico e distinto jornalista, para pensar que poderão aprender a aceitar a crítica? Mesmo que, por improvável milagre, tal pudesse vir a ocorrer nalguns muito raros casos, lá vem o dito popular gaulês para esbandalhar tudo: "Chassez le naturel, il revient au galop." E o natural é a intolerância, o preconceito, a alergia à crítica. Infelizmente.

Escreveu-se o que antecede por simples mimetismo, pois como bem sabemos, em Tomar a situação é outra. Vai tudo muito bem, no melhor dos mundos possíveis, como diria Pangloss, personagem de Voltaire, no seu Candide. Ou pelo menos ninguém se queixa publicamente. Não há portanto necessidade de aprender a aceitar as críticas no vale do Nabão, até porque não há divergências entre os nabantinos. Ou se as há, a informação local não as publica. Por alguma coisa será.

Quase meio século após o 25 de Abril, estamos de novo em Tomar como dizia o saudoso Solnado. Cada um pode ler o jornal que quiser, mas dizem todos o mesmo. Nem podia ser de outra maneira, pois quem paga exige obediência. Apenas uma mudança, entretanto. Já não há censura prévia, o célebre lápis azul dos coronéis. Agora impera a autocensura, muito mais eficaz e todavia discreta.

Os cubanos, com aquele seu humor corrosivo tão castelhano, costumam dizer que em Cuba e com o castrismo há apenas três problemas: pequeno almoço, almoço e jantar. Em Tomar, sem castrismo mas com maioria PS, a situação da informação e dos jornalística é ainda mais simples do que em Cuba. Há um único problema -os fins de mês. Como ultrapassar tal situação? Aprendendo a aceitar a crítica? Que é dela? 


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