domingo, 6 de novembro de 2022


Acolhimento turístico

A falta que faz uma boa sinalização turística

O incidente burlesco com a placa identificando o Hospício de S. Brás, veio revelar lacunas graves no entendimento de coisas simples e comuns. Por exemplo, que um académico pode ignorar algo tão simples como a liberdade de usar as paredes exteriores dos prédios particulares para instalar material de interesse público (cabos e fios de distribuição, sinais de trânsito, painéis de toponímia, sinalização turística, etc.). Revelou também, para os mais apetrechados, o pouco conhecimento que há das necessidades dos visitantes.

Compreende-se. As pessoas viajam pouco, e quando a fazem é em geral como turistas e não como viajantes. Perguntará quem lê qual é a diferença verificável entre viajantes e turistas. É simples e evidente: enquanto o viajante vai descobrindo e vivenciando o seu caminho, o turista limita-se a seguir o tour leader.

Parecendo que não, trata-se de uma diferença fundamental. Quem vive na Rua Infantaria 15, na Corredoura, ou na Rua Silva Magalhães, as vias penetrantes para o centro urbano, já terá reparado decerto que os turistas em grupo não perguntam nada, limitando-se a seguir o rebanho, enquanto os individuais perguntam onde fica a Sinagoga, se há instalações sanitárias, o multibanco mais próximo, um restaurante "bom e que não seja muito caro", etc.

Os queridos líderes que julgam pastorear-nos vão pensar de imediato que "lá está o velho a chatear para nada. Isso era antigamente. Agora há o GPS." Pois há, estimados dirigentes. Que cabeça a minha! Mas façam-me um favor. Pensem um bocadinho na seguinte hipótese, que até já aconteceu com outros personagens: Um de vocês é português, de Bragança, por exemplo, e resolve visitar Tomar. Mete-se no carrito com a companheira e os filhos, e vem por aí abaixo.

Já depois de Coimbra, após consulta na net, a mãe sentencia que é melhor começar cá por baixo, pela Sinagoga, S. João Baptista e o Mouchão, para depois irem ao Convento e finalmente almoçar. A pedido do marido, vai indicando o trajecto dado pelo GPS, até que, com alguma dificuldade, que o raio das ruas não são nada largas, a menina do GPS indica que  estão à porta da Sinagoga. E aí? Onde parquear o carro? Isto com portugueses. Agora tente pôr-se no lugar de um casal de dinamarqueses, ou japoneses, ouvindo as indicações do GPS em inglês, e com carro de aluguer. Aquela obrigatória mudança de direcção para a Rua dos Moinhos, é mesmo uma beleza, não é?

Para evitar aventuras deste tipo, todas as cidades turísticas, excepto Tomar, há muito que instalaram um sistema de "flechagem", que permite aos visitantes circular a pé, ou de bicicleta sem dificuldades, a partir de parques de estacionamento devidamente assinalados e com capacidade bastante. Dá muito trabalho, é verdade, e por isso não é barato, nem está ainda feito em Tomar, pois não está ao alcance de projectistas calhordas. Mas resulta e permanece.

Por razões que escapam a quem escreve estas linhas, os mentores da "Rota europeia dos templários" terão confundido "sinalização turística" com "identificação turística". Flechagem dos caminhos de acesso com placas identificadoras. Acabam assim de instalar doze destas últimas, que são úteis, faltando contudo a outra parte, que é a mais importante -a flechagem adequada das vias de acesso, de ligação e de retorno.

É uma relativamente velha mazela nabantina. Uma vez classificado Património da Humanidade, o Convento passou a ser beneficiado em termos de restauro e de manutenção. Tratando-se do mais complexo monumento português, excluindo Mafra, e não havendo visitas guiadas, senão quando solicitadas com antecedência, esperava-se um adequado sistema de flechagem orientadora da visita... que ainda não existe, trinta anos mais tarde. Há apenas painéis metálicos junto dos locais mais notáveis, identificando-os numa linguagem nem sempre acessível, e dando alguma informação suplementar, o que é útil, mas não há indicações adequadas para chegar ao ponto seguinte, e assim sucessivamente. A tal flechagem. Tal como continua a acontecer cá em baixo. -Sabe-me dizer, por favor, qual o melhor caminho para ir a pé até ao Convento? Pode-se ir pela Mata? E de lá até aos Pegões?

2 comentários:

  1. Experimente quem quiser .
    Dentro de um automóvel de carroçaria média ou maior e guiado pelo GPS desloque a viatura até á Sinagoga e ao descer a rua não podendo continuar a descer na interseção com a rua dos Moinhos tem de virar á direita , experimentem ,vá lá é só tentar !
    Será que quem passa por isto vai voltar ou aconselhar alguém a fazê-lo ?

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    1. Bem lembrado, sr. Oliveira. Mas detalhes como esse são, em português chão, demasiada areia para as camionetas municipais que temos. É ir aguentando e cara alegre. O povo bem recomenda que "Não vá o sapateiro além da chinela". Mas quando chegam as eleições, é geral a desculpa: "não havia melhores". Por isso estamos assim, e o que aí vem vai ser ainda pior. Não sou eu que o digo. São os factos disponíveis que o mostram.

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