Vida local

Desejo mimético 

e retorno ao velho oeste americano

Estamos em tempos de revivalismo, de tal forma que as notícias de clientes de restaurantes tomarenses que comem e depois não pagam, atraem milhares de leitores, tal como os bandidos  Jesse James ou o Billy the Kid tinham milhares de admiradores.

Pelo que consegui apurar, a milhares de quilómetros de distância, trata-se desta vez de alguém educado, culto, vivido e viajado, que resolveu simplesmente aproveitar o facto de Tomar ser cada vez mais conhecida como cidade da impunidade. Vai daí, movido pelo desejo mimético, de que falou René Girard, veio até Tomar, instalou-se num hotel, que talvez pague, e vai comendo nos bons restaurantes sem pagar.

Não sabe o que é o desejo mimético? É aquele impulso que leva qualquer um, quando o vizinho compra um carro novo, a arranjar dinheiro para comprar outro melhor. Por conseguinte, o desejo mimético é um desejo de imitação. Gosta-se daquilo que outros gostam.

No caso, tendo lido que havia gente a comer sem pagar em Tomar, bem como ciganos realojados e ciganas a roubar por várias vezes numa loja da rua principal, sem que algo lhes aconteça, o cidadão resolveu vir aproveitar e conseguiu. Contribuiu até para espevitar alguns dos proprietários prejudicados, em geral tão arredios dos assuntos públicos da urbe, mas que desta vez se uniram e foram confrontar o sujeito faltoso. Não lhes serviu de nada em termos materiais, mas talvez tenham aprendido que é melhor ir participando nas coisas da cidade, para as tentar melhorar, em vez de fugirem da política local como o diabo da cruz.

A realidade não é nada agradável, convenhamos, mas é a que temos e para a qual contribuímos. Uns deliberadamente, outros inadvertidamente. Porque afinal, já leram ou ouviram falar em casos semelhantes, em Ourém ou em Leiria? Há ciganos a roubar em Ourém ou Leiria? Há ciganos residentes em Ourém ou em Leiria? Porque é que a população cresce em Ourém e Leiria, diminuindo cada vez mais em Tomar? Porque é que há ciganas a pedir no Santuário de Fátima, mas não há em Tomar?

Os tomarenses põem-se a jeito e depois lastimam os percalços. Será que já se esqueceram de que mais vale prevenir que remediar? Então porque insistem em semear rosas, à espera de colher figos?