Autarquia
A arte de espatifar dinheiros públicos
em conforto próprio
Lembro-me bem. Nos anos 50, quando o João Simões, o "Jones" porque formado em Inglaterra, administrador da Fábrica de Fiação de Tomar, resolveu ressuscitar a Festa dos tabuleiros, a Câmara municipal tinha o Matadouro municipal, no Flecheiro, o Esterqueiro municipal, junto ao rio, logo ao lado, a Abegoaria municipal, aonde agora funcionam os Serviços de higiene e limpeza, o Turismo e a Câmara propriamente dita.
No edifício dos Paços do concelho, funcionava a Polícia de segurança pública, no r/c direito. A prisão da comarca era no primeiro andar esquerdo O tribunal ocupava o segundo andar esquerdo, aonde está agora o gabinete da presidente e o seu secretariado. A então secção de engenharia ficava no primeiro andar direito, aonde agora funcionam a DGT e a DF, e finalmente, no segundo andar direito, a secretaria da Câmara e os dois gabinetes, respectivamente do presidente e dos vereadores.
Sucessivas transferências de serviços, foram libertando o velho edifício, que a autarquia foi reocupando. O tribunal saiu, a PSP saiu, e a prisão saiu. Já muito mais tarde, depois do 25 de Abril, os Paços do concelho foram requalificados, ficando a presidência, os vereadores e os técnicos superiores, com gabinetes que, pelas suas dimensões imponentes, mais parecem de ministros de países da Europa do norte.
E apesar de a autarquia ter genericamente as mesmas competências dos anos 50, o pessoal aumentou exponencialmente. De tal forma que também já ocupam, além dos Paços do concelho, do Turismo e da Abegoaria, grande parte do prédio dos ex-SMAS, o prédio da Caixa Feral de Depósitos e os pavilhões da Feira da Avicultura Industrial, no alto de Santa Bárbara.
Veio a época dos socialistas, que seguramente após ponderada congeminação, resolveram que os Paços do concelho e anexos, já não servem ou já não chegam, pelo que os serviços devem mudar para o Convento de S. Francisco (ver crónica anterior), por razões que os integrantes da actual maioria saberão decerto. Eventualmente para que eleitos e funcionários não partilhem a mesma escada de acesso, para evitar eventuais maus encontros.
Com a cidade e o concelho a pedir providências rápidas em termos de projetos para o futuro, designadamente na área das estruturas de acolhimento turístico, indispensáveis para assegurar o desenvolvimento económico local, a senhora presidente vai-se preocupando com a melhoria das instalações para os eleitos e funcionários municipais. Dá que pensar, aquela do projecto de anfiteatro de uso partilhado com a Associação do Médio Tejo, a instalar em S. Francisco. Para os tomarenses com problemas de emprego, de saneamento, de poluição do Nabão, e por aí adiante, é cá de um interesse ter um pequeno anfiteatro em S. Francisco, como ter um oásis com muita água no deserto do Sara.
Ao que chegamos, quase 50 anos após Abril! Gente preocupada sobretudo consigo própria. Deve ser como dizem os franceses: "Charité bien ordonnée, commence par soi-même." Afinal são socialistas modernos.
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