Responder ao que não perguntam,
para evitar questões incómodas
Vamos ser rigorosos. Em vez de começar pelo princípio, como prescreveu em tempos o secretário do senhor de Lapalisse, comecemos pelo início do princípio. Ora faça favor de ler com atenção:
https://omirante.pt/sociedade/tomar-afasta-ideia-de-que-ha-varios-guetos-na-cidade/
Já leu? E que tal? Antes de mais, deve ter-lhe parecido algo estranho, ser um jornal com redação em Santarém a publicar uma notícia tão detalhada e bem feita, sobre um assunto local, quando em Tomar há dois semanários, duas rádios, e pelo menos 6 blogues informativos (os dos jornais, os das rádios, Tomar na rede e Tomar a dianteira 3). Mas tem uma explicação. Conforme refere a própria notícia, "está a dar que falar" a questão dos ciganos em Tomar, o que, como bem sabemos, é uma visão de metecos. De gente de fora. Os tomarenses de cepa sabem muito bem que só dão que falar os tabuleiros, a poluição do Nabão e as festarolas da Filipinha. O resto é treta.
Está portanto explicado. Na terra gualdina, nenhum órgão informativo julgou útil entrevistar o sr. vice presidente Cristóvão sobre os guetos ciganos. Ou haverá outros impedimentos, tipo autocensura, por exemplo? Segue-se que a notícia avança com pelo menos um dado controverso, ao atribuir ao PSD a liderança dos protestos no caso do realojamento cigano.
Sucede que, como bem sabem os tomarenses, não há protesto algum. Apenas uns desabafos inconsequentes, com algumas alusões bem comportadas dos social-democratas. Que apanharam a carruagem em andamento. Especificando um pouco, têm sido o Tomar na rede e o Tomar a dianteira 3 a liderar a publicação de situações incómodas para a autarquia, sem qualquer intervenção da oposição, praticamente inexistente desde 2013. Convém tomar nota, para evitar futuros equívocos.
Retornando à notícia d'O Mirante, um excelente semanário regional, que colaborou neste caso com uma técnica jornalística conhecida como "afogar o peixe na água", a qual consiste em baralhar o leitor, levando-o a desviar a atenção do essencial. Neste caso, por exemplo, o essencial eram os guetos ciganos e a interdição de Bruxelas de alojar ciganos em bairros só para eles.
Habilidosamente, mas de forma que o jornalista deve ter detetado, Hugo Cristóvão começou por responder ao que não lhe perguntaram, referindo que o Município de Tomar até integra diversos organismos para os quais foi eleito devido às suas boas práticas, etc. etc. Tudo bem, sr. vice-presidente. E quanto ao Bairro Calé? E quanto ao futuro Bairro Valbom Calé?
O primeiro, que criou involuntariamente uma situação achincalhante e muito incómoda para a GNR, ao instalar uma comunidade cigana mesmo à ilharga do quartel da corporação, mas sem que os seus militares possam intervir, por ser competência exclusiva da PSP, devido a estar em área urbana, e a GNR só ter competência na zona rural. Tratando-se de um pequeno gueto, criado pela Câmara quando ainda desconhecia a existência da diretiva europeia, recorreram a uma manobra administrativa. Passou a ser um "Centro de acolhimento Temporário". Para quantos anos? O outro, o Valbom Calé vai chamar-se como? Talvez "Centro periférico de acolhimento temporário".
Quanto aos cada vez mais frequentes incidentes com os novos habitantes dos bairros sociais, pouco ou nada inclinados para a integração social, depois logo se vê. Quem vier a seguir que trate do problema, parecem pensar no seu íntimo os membros da atual maioria.
Ao tentarem sistematicamente ludibriar os eleitores, sonegando informação e usando de habilidades várias, os senhores autarcas estão afinal a enganar-se a si próprios e a cavar as respetivas sepulturas políticas.
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