Rua Amorim Rosa ornamentada durante a Festa dos tabuleiros de 2011.
Festa dos tabuleiros
Novas "ruas populares ornamentadas"
Já se trabalha afanosamente na preparação da próxima edição dos tabuleiros, que são em Tomar uma religião, com o seu clero instalado e até um mini evangelho. Tal como qualquer outra instituição, a festa vai evoluindo, apesar da excessiva ortodoxia de alguns dos seus bispos. Entre a festa de 1950 e a que aí vem, há imensas diferenças, nem todas para melhor, que só não vê quem não quer. Como bem diz o povo, "não há piores cegos que aqueles que não querem ver."
Procurando não tomar posição, há que reconhecer todavia que os tabuleiros em Tomar já não são um cortejo de oferendas, nem uma procissão religiosa. Apenas um desfile para se mostrar e para turista ver, bastante caro e alegadamente "para promover a cidade e o concelho". O problema é que uma promoção só de quatro em quatro anos, pouco ou nada promove, pelo menos na área do turismo cultural organizado. Apesar disso, compreende-se que quem dirige a autarquia se recuse a tornar a festa anual, por manifesta carência de recursos financeiros, uma vez que no modelo atual as receitas são ínfimas e as despesas cada vez maiores. Em 2023, é muito provável que a festa venha a custar mais de um milhão de euros. Com tal incremento de custos, a câmara vai financiar até quanto e até quando?
No modelo que vem desde 1950, sempre houve, de forma algo estranha, "ruas populares ornamentadas pelos seus moradores", pelas quais nunca passou o cortejo. Apenas as coroas. Sendo assim, qual o interesse? Obviamente o de compensar a população, frustrada por não poder ornamentar as vias pelas quais desfila o cortejo, dadas as suas dimensões, bem como uma influência manifesta da "festa da flor", em Campo Maior, que entretanto já não se realiza há vários anos, uma vez que o povo daquele urbe alentejana assim tem decidido.
Na edição 2023 dos tabuleiros, segundo o que está já em andamento, deixará de haver "ruas populares ornamentadas pelos seus moradores", pois estes são cada vez menos, mais idosos, e nem todos estão interessados. Nestas condições, à boa maneira tomarense, em vez de debaterem abertamente o assunto, chegaram a uma solução "em capelinha": haverá grupos especializados, cada um dos quais tomará a seu cargo a ornamentação de uma rua e a sua posterior desmontagem.
É assim uma espécie de terceirização da ruas ornamentadas. Se a Câmara já compra a Festa templária, os festejos de rua ou os grandes concertos prontos as usar, porque não a ornamentação das ruas, tanto as do cortejo como as outras? Afinal, já em anos anteriores houve experiências desse tipo, que até resultaram sem chocar, embora seja forçoso reconhecer que por exemplo a Rua Amorim Rosa nunca foi uma "rua popular", por não se enquadrar nesse tipo, nem em termos humanos, nem arquitectónicos.
Quanto ao resto, siga a festa, enquanto houver dinheiro nos cofres públicos. Um dia virá, forçosamente, em que será indispensável mudar de modelo, para outro mais barato e rentável, porque o atual se tornará incomportável. Mas muito provavelmente só quando já cá não estiver quem escreve estas linhas. Resta por conseguinte desejar muita coragem e boa sorte a todos os cidadãos de boa vontade, sinceramente empenhados no êxito da Festa dos tabuleiros.
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