Cultura municipal
Uma vereadora muito à frente do nosso tempo
Custou mas foi! Só agora consegui lá chegar. Acabo de ler uma crónica de Guillaume Fraissard, chefe do serviço cultura do Le Monde, e fez-se luz na minha cabeça. Escreve o jornalista gaulês que "De Bruce Springsteen (na imagem) a Taylor Swift, os preços dos bilhetes para os concertos sobem em flecha, havendo o risco de fratura entre o público." E cita preços escandalosos, praticados pelas agências de bilhética, para os concertos dos dois artistas antes citados, que oscilam entre os 200 e os 5.500 dólares, consoante os lugares.
Ao que é revelado na peça, trata-se da nova tendência, os "bilhetes dinâmicos", cujo preço sobe ou desce consoante a procura, igualmente praticada nos transportes rápidos (TGV e avião) e nalguma hotelaria. E foi assim que lá cheguei, ao génio da nossa simpática vereadora cultural.
No caso do concerto Abrunhosa, por exemplo, estudado o assunto, terá ela concluído que, ao contrário de Leiria, com entradas a 20 euros, em Tomar o concerto seria um fiasco com bilhetes pagos, pelo que na terra gualdina seria gratuito. Com duas vantagens: um grande êxito de público e mais um passo rumo ao socialismo. Ou já se esqueceram que, de acordo com a doutrina, deve ser sempre "a cada um conforme as necessidades; de cada um consoante as possibilidades"?
Em relação ao mesmo concerto Abrunhosa, que custou à autarquia 30 mil euros, se têm enveredado pelos "bilhetes dinâmicos" e calculado 3 mil espetadores pagantes, podíamos ter mil bilhetes a 20 euros, outros mil a 50 euros e os restantes a 100 euros. Ou seja um total de 170 mil euros de receita bruta. Descontados os 30 mil do contrato, mais 10 mil para alcavalas diversas, entrariam 130 mil euros nos cofres municipais?
Para fazer o quê? Além de ser uma ninharia, quando comparado com os fundos quase gratuitos da União Europeia, que são sempre em milhões, é bem sabido que, fora os subsídios a coletividades e os eventos à borla, a câmara não tem ideias nem projetos inovadores, nem vontade de arranjar umas nem outros, porque são coisas que só dão trabalho e chatices. E a diferença entre uma câmara de pedintes e uma câmara de empreendedores, não compensa em termos eleitorais o trabalho que dá.
Tudo devidamente ponderado, a vereadora cultural viu bem. Mais vale ir tentando implementar o socialismo pelas borlas, e comprando votos para continuar no poder, do que sujeitar-se aos constrangimentos do progresso e às ambições dos cidadãos mais evoluídos. Uma vereadora muito à frente do nosso tempo, enquanto houver tansos que continuem a embarcar na música dela e dos camaradas.
Como dizia o velho cabo de corneteiros do 15, em pleno pinhal de Santa Bárbara, "Têm aí as cornetas. Quem sabe toca; quem não sabe passa a outro, que não há cornetas que cheguem para todos." Assim continuamos em Tomar, meio século mais tarde. Com os tomarenses a assistir pacatamente. Como se não fora nada com eles. Só no fim do mês é que por vezes alguns se põem a pensar se...
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