sábado, 26 de novembro de 2022



Política local

Palavra da senhora

Alguns apoiantes e serventuários da maioria PS -sobretudo os serventuários ou lacaios- costumam usar o vocábulo frustração para qualificar quem ousa criticar os excelentes autarcas que elegeram. Revelam assim pelo menos duas coisas: raiva mal contida e fraco conhecimento daqueles que visam. Mas adiante, que agora o assunto é outro, e foi mesmo uma (pequena) frustração.

Abri, como todas as manhãs, o site da Rádio Hertz, sabendo muito bem que, por força das circunstâncias, é a rádio oficial da autarquia, o que todavia não a tem impedido de fazer um bom trabalho, tendo em conta os recursos de que dispõe, e fiquei contente. Anunciava-se uma longa entrevista com a presidente da câmara, conduzida por António Feliciano, um profissional que sempre respeitei e que estimo.

Peguei nos auscultadores, saquei do caderninho e da caneta e comecei a ouvir. Foi um balde de água fria, uma frustração.  Anabela Freitas começou por agradecer ao jornalista, porque usualmente era ela que ia à Rádio Hertz, e agora era o contrário, vinham à sua casa, ao seu gabinete de trabalho na autarquia. Pensei então para comigo que já ouvira aquilo algures e olhei para a parte superior do ecrã. Lá estava a data que ainda não tinha visto: 25/10/2022.

Ou seja, a Hertz não enganou ninguém. Eu é que não li antes todas as indicações. Mea culpa. Persiste ainda assim a questão: Porquê, numa pequena cidade provinciana, repassar uma longa entrevista de uma hora, com a presidente de câmara, um mês depois, e logo no 25 de Novembro? Em geral, são as igrejas, no quadro do proselitismo a que chamam evangelização, que vão repetindo homilias, para difundir a palavra do Senhor.

Acontece também nos regimes autoritários, cujos líderes gostam de se ouvir, tendo atingido o seu paroxismo durante a chamada revolução cultural, com o célebre "livro vermelho dos pensamentos de Mao Tsé Tung." E Portugal também não escapou, com as homilias do "senhor presidente do conselho", repetidas na então Emissora nacional. Uma das mais célebres foi aquela em que, falando sobre a "guerra do ultramar", usou a frase "havemos de chorar os mortos se os vivos os não merecerem". Tristes e sombrios tempos, já quase completamente esquecidos...

E agora a reprogramação de uma longa entrevista da presidente da câmara, numa rádio local, com um mês de intervalo. Qual a intenção? Terá sido a própria entrevistada a impôr a repetição, por razões que me escapam? Não excluo, mas custa-me acreditar.

Ou terá sido a própria Rádio Hertz, procurando "encher chouriços", que é como quem diz neste caso, preencher os tempos de antena semanais e mensais, que devem constar do ajuste direto celebrado com a autarquia? Em qualquer dos casos, não me parece que seja uma experiência a repetir. É um mau hábito, e os referentes são péssimos, como se pode ler mais acima.

Posto que se fala de informação, uma nota final para a visita inopinada da ministra da agricultura, anterior presidente da câmara de Abrantes, que esteve no Hotel dos Templários e não no República. Terra de nabos, seria ofensivo se quem tutela a agricultura não visitasse a Nabância.

ADENDA ÀS 15h30 DE 26/11/2022

Após dúvidas manifestadas por leitores, esclarece-se que esta entrevista faz parte de uma série que inclui todos os concelhos da subregião, até à Sertá. A repetição de que se fala na crónica resulta do facto da Rádio Hertz ter dois "chapéus", a rádio e o site. Cada uma das entrevistas foi transmitida em directo e publicada no site, tendo sido mais tarde repescada, para memória futura.


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