terça-feira, 22 de novembro de 2022

Turismo

As aparências iludem - 2

O comentador Rui Vieira teve a amabilidade de responder à minha contestação a um seu escrito. Fê-lo no Tomar na rede, como se compreende, pois foi também lá que fui copiar o dito, e caso o tivesse vindo fazer no Tomar a dianteira 3 podia contrair sarna, ou doença ainda pior. E podia até irritar a ex-patroa. Nunca fiando. De qualquer maneira, agradeço a evidente boa vontade.

Ignorante com sou, nestas coisas da internet e noutras, li o referido comentário ontem, mas hoje já não consegui localizá-lo. Paciência. Embora a memória recente já tenha funcionado melhor, ainda se consegue dar um jeito. Se bem me recordo, nesse seu escrito, o comentador dizia ser falsa a minha ideia segundo a qual a Câmara está de mãos atadas na questão dos hostels ou turismo de habitação, citando até o caso de Lisboa, onde já há limitações.

Estarei mesmo enganado? É ponto assente que na questão de obras da câmara e nas particulares, quem decide de facto são alguns técnicos superiores municipais. Os eleitos só assinam. Também é um dado adquirido que esses técnicos superiores trabalham melhor com luvas, de tal forma que quando não as há, por qualquer razão, os processos não andam. É o que consta por esse país fora. Até se acrescenta por vezes que "em Tomar fica sempre mais caro que em Leiria."

No caso específico das obras para adequação às normas do turismo de habitação, logo que alguém faz um pedido de viabilidade, oralmente ou por escrito, é informado que deve ir ao gabinete do arquitecto X, que eles tratam de tudo. E tratam mesmo, no estilo "chave na mão". O cliente só tem que pagar os custos do projecto, que é logo aprovado como é óbvio, das obras e demais alcavalas -as tais luvas.

Se alguma vez a maioria socialista tivesse a infeliz ideia de limitar, ou mesmo acabar com as licenças de obras para turismo de habitação, para assim proteger os já instalados, que segundo o comentador Vieira já estão a trabalhar a 25 euros a dormida e pequeno almoço, lá se iam as luvas, que dão sempre tanto jeito. No inverno, sobretudo por causa do frio no fim do mês. Durante todo o ano para evitar sujar as mãos, de forma demasiado ostensiva.

Admitindo, como mera hipótese de trabalho, que a maioria PS conseguisse ultrapassar o obstáculo das luvas, como proceder para proibir mais hostels e turismo de habitação em Tomar ? É certo, como refere Rui Vieira, que em Lisboa já o fazem. Tal como acontece em todas as grandes cidades europeias. Mas dispõem de legislação para isso. Em Tomar, essa legislação não existe. Que se saiba, a peça chave, o PDM, nem aborda a questão específica do alojamento turístico. Como proceder então?

Além do alojamento dito de turismo a granel, o meu contraditor insiste na oposição turismo a granel/turismo de qualidade, falando mesmo de uma grande companhia aérea low cost, julgo que a irlandesa Ryanair, cujos lucros causam inveja e desmentem a visão de Rui Vieira. Afinal pode-se ganhar muito dinheiro no transporte aéreo, ao contrário do que acontece com a TAP, mesmo com turismo a granel ou de baixa qualidade.

De resto, nessa questão da qualidade dos turistas e do valor acrescentado, parece haver um equívoco. Tomar é um pequeníssimo nicho de mercado em termos de turismo receptivo, insignificante na área do turismo exportador. Assim sendo, é pura conversa de circunstância tentar seleccionar os turistas que recebemos. Temos de acolher todos e tentar que fiquem quanto mais tempo melhor, gastando em proporção. O resto é fantasia, numa terra onde o que falta são adequadas estruturas de acolhimento, cuja carência se nota cada vez mais.

Insistir nessa amálgama turismo de massas/turismo de luxo, parece ser apenas um pretexto para desviar a atenção do essencial -as tais estruturas de acolhimento turístico, que condicionam tudo, incluindo a mais-valia, lucro ou valor acrescentado. Querem um exemplo? 

Quando, nomeadamente, a rainha emérita Sofia de Espanha, e as suas amigas, viajam até Londres numa companhia low cost, para ali se alojarem em hotéis de três estrelas, fazerem compras, visitarem museus e assistirem a espectáculos, comendo em restaurantes populares, como tem vindo a acontecer, segundo a imprensa espanhola, é turismo a granel? Ou turismo de qualidade?  De massas, ou de luxo?

No fim de contas, acontece com o turismo o mesmo que com o exército. Quem nunca foi militar, muito dificilmente conseguirá ser um comentador especialista competente das forças armadas. Mas conseguirá iludir os leitores durante um certo tempo...

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