Política local
Um candidato fantástico
com uma equipa fantástica?
Devo ao sr. vereador Carrão um gesto, que aqui quero assinalar. Na sua preparação para a eleição interna do PSD, no próximo dia 26, ignorou Tomar a dianteira, ao abster-se de enviar a sua propaganda. Ainda bem. Já a sua actual líder fazia o mesmo, com os resultados bem conhecidos. Fica-se assim muito mais solto, para poder criticar livremente e sem dó nem piedade. Mas com um agravado sentimento de exclusão e de boicote, sempre lastimáveis na terra onde se nasceu e cresceu.
Da curta mensagem gravada do sr. Carrão, dita com correcção, ficaram-me uma expressão e uma palavra. Justificando o seu apelo ao voto, disse o candidato que é para "tirar Tomar da estagnação", e já no final mencionou uma equipa "fantástica". Tirar Tomar da estagnação vai ser uma tarefa assaz complicada, porque não está estagnada, mas em retrocesso e a encolher, a atrofiar, como mostram a perda de população, de empresas, de emprego, de volume de negócios, de impostos cobrados... e de políticos à altura. Está tudo ligado.
Temos assim um equívoco do candidato Carrão. Um erro de diagnóstico em termos médicos, e sabe-se que tal percalço dá origem a terapêutica errada, a qual por sua vez pode provocar a morte do paciente. Oxalá haja entretanto uma revisão capaz. Até porque, na fase actual, o principal objectivo do candidato nem sequer é fazer algo por Tomar, mas apenas lograr ser o candidato do PSD em 2025. Nada como a clareza.
Sobre a "equipa fantástica", que se ignora quem seja, percebe-se o exagero. Carrão é engenheiro informático e usa por isso a linguagem típica de Silicon valley, ou que ele julga ser de lá. Acontece que está na política no vale do Nabão, onde se fala português e portanto "equipa fantástica" pode ser: fora do comum, extraordinária, prodigiosa, extravagante, caprichosa, inverídica, falsa, inventada, ou que só existe na imaginação. Será mesmo isso que quis dizer o sr. eng. inf. Carrão?
Com juventude, boa preparação técnica e experiência empresarial, Tiago Carrão tem o essencial para vir a vencer e suceder com vantagem aos actuais funcionários públicos. Parece faltar-lhe contudo alguma humildade e abertura de espírito, bem como um módico de simplicidade e fraternidade.
País imenso, com 156 milhões de eleitores inscritos, voto obrigatório em urna electrónica, e 27 estados muito diferentes uns dos outros, o Brasil conseguiu o que parecia quase impossível -vencer o candidato da extrema-direita. Para isso, a esquerda soube ser humilde e aceitar o que diziam as sondagens: o único pré-candidato capaz de vencer o bronco Bolsonaro era um operário metalúrgico, já condenado por corrupção, sem formação universitária e com 77 anos. E Luíz Inácio da Silva, dito Lula, não defraudou as expectativas. Venceu com mais de 60 milhões de votos, mais dois milhões e meio que Bolsonaro, tendo recolhido percentagens da ordem dos 70% nalguns estados do Nordeste, de onde é natural. Pelos vistos o velho provérbio português "Santos da casa não fazem milagres", deixou de ter validade.
Saberão os tomarenses, à escala micro, proceder de igual modo? Fixar objectivos, escolher e apoiar só quem os possa alcançar? Vai sendo tempo de encarar a realidade como ela é, numa terra onde até o seu fundador há muito que virou as costas à Câmara.
Entretanto, boa sorte para o candidato à liderança PSD nabantina! Oxalá consiga!
Sem comentários:
Enviar um comentário