segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Aspeto de Jerusalém. Em cima a esplanada das mesquitas, vendo-se a cúpula dourada da mesquita do rochedo, a partir do qual, segundo a tradição muçulmana, Maomé subiu ao céu. À direita o muro das lamentações, local sagrado e de oração para os judeus, que foi uma das paredes exteriores do templo de Salomão.


Muro das lamentações, local sagrado para os judeus, que ali vêm orar, lamentar-se e deixar queixas e pedidos, em papéis inseridos nas juntas das pedras. As mulheres oram do lado direito, e os homens do lado esquerdo.

Turismo

Os templários foram afinal os primeiros operadores de turismo ou viagistas da cristandade - 2 

(Para melhor entendimento deste texto, convém ler o 1)

O mito do tesouro dos templários, ou do ouro dos templários, não passará disso mesmo, de um mito. Cuja origem serão dois fatores conjugados, tão evidentes que tendem a passar despercebidos. Um deles é o fato do rei cristão de Jerusalém, Balduino II, ter cedido aos nove pobres cavaleiros gauleses as ruínas do antigo templo de Salomão, (ver imagem), para ali instalarem a sua sede. Daí a sua designação posterior de Templários, Templeiros ou Pobres Cavaleiros do Templo de Jerusalém.

Dada a origem e a história anterior do templo, logo que os templários começaram a prosperar graças à sua muito lucrativa atividade, que hoje designaríamos como turismo organizado, apareceram as primeiras alusões ao tesouro dos templários. Para uns seria a Arca da aliança, para outros o Santo graal. Como explicar de outro modo a súbita (para o ritmo da época) riqueza templária?

Os templários e os cruzados em geral acabaram por ser expulsos de Jerusalém, e das restantes possessões na Terra Santa, mas entretanto já dispunham de vastos recursos na Europa, fruto de doações reais, mas também e sobretudo das suas atividades de viagistas. É uma faceta pouco conhecida, essa das peregrinações orientadas pelos cavaleiros do templo, e mais tarde também por outras ordens religiosas. Atividade que ainda hoje se mantém.

Mesmo nos nossos dias, e com todos os recursos de que dispomos, não é assim muito fácil, nem barato, ir à Terra Santa. Visitar sobretudo Jerusalém, Belém e o rio Jordão, local do batismo de Cristo. Entrando por Israel é mais fácil, mas mais caro. Começando pela Jordânia, resulta um pouco mais barato e muito mais pitoresco, porém só para quem esteja muito habituado a viajar sozinho e fale inglês, mesmo rudimentar. Passar da parte palestiniana para Israel, pode ser um bocado complicado, para quem não tenha espírito de iniciativa, nem acompanhante a quem recorrer.

Agora imagine-se a situação há oito séculos. Viagem longa, desconfortável, demorada, insegura e assim. Por isso, cada peregrino começava por se entender com a ordem dos templários, confiando-lhes a proteção da família e dos bens até ao seu regresso, pagando-lhes os custos previstos (transporte, alojamento, alimentação, escolta) e recebendo em troca uma lettre de change, a que agora chamamos uma mescla de voucher mais cartão de débito/crédito.

Uma vez desembarcado na costa mediterrânica, o peregrino mostrava a lettre de change, o que lhe garantia a continuação da sua viagem sob a proteção dos templários, que iam debitando as sucessivas despesas. Quando acontecia, não poucas vezes, que o peregrino falecia, vítima de doença ou das investidas muçulmanas, que eram frequentes, a ordem comunicava o sucedido à respetiva casa europeia, e esta "tomava conta da família e da fazenda" do defunto, como se dizia na época. Assim se explica que, tendo a sua casa principal em Tomar,  os templários dispusessem de tantos bens por esse país fora, sobretudo no norte.

É agora praticamente do conhecimento geral que os templários foram presos, julgados de forma sumária, condenados à morte, e os seus bens confiscados, alegadamente por práticas aberrantes em França, tendo o rei Filipe IV, com o acordo do Papa, solicitado aos outros reis cristãos que procedessem de igual modo. Na verdade, o rei francês devia aos templários somas consideráveis, que pedira emprestadas para financiar as suas guerras sucessivas, e não podendo pagar, resolveu matar os credores. Uma solução ainda hoje muito praticada entre a bandidagem.

Em Portugal, D. Dinis desobedeceu ao rei francês e ao papado de Avinhão, limitando-se a alterar o nome da ordem, que passou a chamar-se "Pobres cavaleiros de Cristo", em vez de "Pobres cavaleiros do templo de Jerusalém". Por simples bondade, ou ato de inteligência do rei? Sabemos hoje que apenas seguindo um velho e sábio conselho: "Se não os podes vencer, junta-te a eles." Os templários tinham nessa época tantos recursos e tantos seguidores no reino, que confrontá-los resultaria quase de certeza na derrota real. (Continua).

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