quarta-feira, 2 de novembro de 2022

Transportes urbanos

Adeus trotinetes, vivam as bicicletas?

A notícia é conhecida. A empresa privada que trouxe as trotinetes de aluguer para Tomar, rescindiu o convénio com a Câmara, e cessa a sua atividade na cidade. Contentamento dos mais velhos e conservadores nos costumes; tristeza dos mais novos e atirados para a frente. Quase todos convencidos de que as trotinetes acabam em Tomar por evidente falta de civismo, da parte de dois grupos urbanos bem conhecidos -os ciganos e os alunos do politécnico, cujos hábitos excêntricos  e escandalosos são bem conhecidos.

Os ciganos, apesar de residirem em Tomar há décadas, na sua grande parte, continuam a causar problemas sociais, porque nunca houve a coragem e a competência necessárias para os levar a frequentar com aproveitamento programas de integração cívica. E se não lhes ensinarem, é evidente que nunca mais vão aprender, até porque não estão interessados.

Quanto aos alunos do Politécnico, para além da natural irreverência dos jovens, avulta o facto de serem quase todos alunos de 2ª, 3ª ou 4ª escolha, com tudo o que isso implica. Basta meditar na curiosa expressão, vinda do próprio estabelecimento de ensino: são o refugo do refugo. E quem possa ter dúvidas, fará o favor de assistir com atenção às diferentes manifestações dos estudantes. Tanto na receção aos caloiros, como sobretudo na "baldada",  fica-se completamente esclarecido sobre os exageros de que aquela gente é capaz. Sem más intenções, é óbvio. Apenas divertimento e os outros que se lixem.

Elencados assim os energúmenos e os incivilizáveis (de que falou Pessoa), os tomarenses progressistas lamentam que acabem as trotinetes por falta de civismo, conforme se pode ler nos comentários do nosso estimado colega Tomar na rede. E estão mais uma vez equivocados. Na realidade, as trotinetes não acabam em Tomar só por causa do incivismo e do vandalismo, por as deixarem em qualquer lado e de qualquer maneira, ou mesmo por as atirarem ao rio.

Acabam por uma mera questão de INPUT e OUTPUT. Trata-se de uma empresa privada, que resolveu arriscar, avançando com um investimento, que julgou ir facultar lucro, valor acrescentado (INPUT), eventualmente após adequado estudo de mercado. Feita a experiência, concluiu, ao fim de um certo tempo julgado suficiente, que a receita proveniente do aluguer (INPUT) era insuficiente para cobrir o investimento inicial, a manutenção e a perdas de material (OUTPUT). Não podendo contar com subsídios públicos, nem com contribuições e impostos, fez o que se impunha -encerrou a atividade.

Que significa isto? Que não há em Tomar, nas normais condições de mercado, clientela solvente suficiente, nem para trotinetes, nem para bicicletas, nem para transportes públicos. Cabe assim à autarquia tomar boa nota, e decidir caso a caso o que lhe convém. Ou deixa funcionar o mercado, ou assume os custos, como já vem fazendo, e de que maneira, com os TUT e com os transportes escolares. Para não falar de 10 bicicletas compradas em tempos pela autarquia, para alugar aos turistas, agora perdidas algures no quartel dos bombeiros, que por enquanto ainda não precisam de ir a pedalar para os incêndios.

O facto de anunciarem que este ano não haverá em Tomar o regabofe dos vales de compras, importantes geradores de inflação, leva a supor que os apertos do BCE começam a surtir efeito. O problema vai ser em 2024 e 2025, com a habitual e mais ou menos disfarçada caça ao voto.

1 comentário:

  1. Não consigo atribuir um peso político demasiado dramático ao fim das trotinetes.
    Para mim foi simplesmente um negócio mal montado. Falharam no modelo e na execução. Falharam nomeadamente na recolha como também falhou a PSP, que deve andar atrás de outras prioridades na fiscalização.
    No entanto suspeito que isto não fica assim, como observei em fevereiro do ano passado, n'O Templário.
    "Condicionado ao inevitável financiamento europeu, a Comunidade Intermunicipal do Medio Tejo lançou concurso para investir 1.850.000,00 euros em 296 bicicletas (elétricas e convencionais) e 62 estações de parqueamento e carregamento.
    Não há muitas maneiras de fazer as contas. Dividam o custo pelo número de bicicletas e chegam a mais de 6 000,00 euros por unidade (se o IVA não estiver incluído, passa os 7.500,00). Tinha previsto isto aqui no Templário, a propósito da ciclovia da Coronel Garcês Teixeira. Citei o caso de Lisboa onde pagaram 16.000,00 euros.
    Porque é que os municípios têm de se meter nisto? Para o nosso país estes valores não são indecentes? Alugar bicicletas não é negócio? Porque não se deixa esta atividade para os empreendedores?"
    Bem, para os empreendedores, para as trotinetes, pelos vistos não resultou.
    E se o negócio fosse camarário, com as bicicletas? Correria melhor?
    Espero que o município não tenha a tentação de experimentar.

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