sexta-feira, 11 de junho de 2021

 



Política local/Gestão do território

 ARTISTAS LOCAIS DO CIRCO POLÍTICO NACIONAL

Fruto do acaso, ouvi um dia destes, em gravação Rádio Hertz, Hugo Cristóvão e José Delgado falarem, cada um na sua vez, do novo instrumento de gestão urbanística para a zona das Avessadas. O que ouvi não agradou. 
Não está em causa nenhum dos dois cidadãos, enquanto tais. São pessoas simpáticas e de boa companhia, como é uso dizer-se, que me merecem toda a consideração e respeito. Apenas procuro não confundir relacionamento pessoal com subserviência política, ou carneirismo  
A coisa começou logo mal, com a distribuição do tempo. Num excerto de 26 minutos, o atual vice-presidente falou durante 20 minutos (em duas intervenções) e o agora vereador Delgado teve direito aos seis restantes, numa única intervenção. Pode ser que considerem normal, mas incomodou-me. Normalmente, nos espetáculos circences, até o palhaço rico procura repartir equitativamente o seu tempo com o do comparsa pobre. Pelo que ouvi, na política tomarense é diferente. Resta-me tomar nota.
Quanto ao conteúdo de ambos os discursos, dá para perceber como vai a trupe local do circo político nacional. Nela há ilusionistas, contorcionistas, ventríloquos, malabaristas, domadores, equilibristas, etc. etc. Quem ler fará o favor de escolher.
Neste caso das Avessadas, aquela quinta grande onde implantaram o hospital e abriram uma avenida com o nome da dona, primeiro havia o PDM. Mais tarde, concluíram os cérebros municipais, (entenda-se técnicos superiores) que era um instrumento demasiado complexo, pelo que se  elaborou, ou mandou elaborar por equipas externas, vários planos ditos de pormenor.
Agora, a três meses do final do mandato, concluiram que afinal, após  vários outros, o plano de pormenor das Avessadas é também demasiado complicado.  Designadamente porque, conforme disse o vice-presidente Cristóvão, abrange uma área demasiado grande. Segue-se a encomenda de um plano de urbanização para toda aquela área, até à Rotunda dos construtores civis, recorrendo a uma equipa externa, porque a autarquia não tem recursos humanos para tanto. Seis arquitetos na DGT e 11 engenheiros na DOM apenas permitem a formação de uma equipa para supervisionar a equipa a contratar no exterior. O tempo previsto para a elaboração do plano é de 12 meses, mais o período necessário para a subsequente aprovação. Entretanto os candidatos a investidores que vão esperando. É a lei. Dura lex sed lex.
Dentro de três a cinco anos, na melhor das hipóteses, haverá quase de certeza nova cambalhota, que consistirá em alterações ao plano de urbanização que agora vão mandar fazer. E assim sucessivamente.
Do anterior se conclui que em Tomar, pelo menos em matéria de urbanismo e gestão do território, andamos como os caranguejos, às avessas. Em vez da vontade dos eleitores, prevalece sempre a vontade dos burócratas; em vez de se passar do plano de urbanização para o plano de pormenor, faz-se exatamente o oposto, passa-se do detalhe para o geral. Tudo isto numa autarquia em que avultam fortes sinais de que também não são os eleitos que lideram os técnicos superiores, mas exatamente o inverso. E onde pode bem ser que prevaleça uma mentalidade nos termos da qual os eleitores são servidores dos funcionários municipais, e não o contrário.
Perante isto, que fazer, a não ser citar aquele presidente de junta, que dizia sempre "Eu como presidente da fregu-ésia..." Até que  um dia alguém procurou corrigi-lo: -Olhe que não é fregu-ésia, sr. presidente. é freguesia. A resposta foi pronta e muito adequada: "Cuméque querem questa merda progreda sandam sempre a mudar tudo ?!" 
Ainda que quisesse, eu não conseguiria dizer melhor, mantendo o estilo vernáculo, que me parece o mais apropriado na circunstância.

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