quarta-feira, 2 de junho de 2021

 

Imagem Cidade de Tomar

Autárquicas 2021

 
CDU FORMATADA 
E CONFORMADA

António Rebelo

O tom geral da entrevista do professor Paulo Macedo ao Cidade de Tomar parece ser de moderação. Tratando-se da CDU, herdeira da resistência anterior a Abril, quando era mesmo difícil e perigoso para a saúde, pode mesmo falar-se de formatação de uma candidatura conformada.
Se fora outro entrevistado, poderia haver dúvidas em relação à substância discursiva; tratando-se de alguém de elevada craveira intelectual e com longa experiência política, não cabem dúvidas sobre a deliberada consensualidade macia das respostas.
Eventualmente cientes disso, as entrevistadoras ousaram até uma pergunta menos comum e provocatória: "O que  é que esta câmara fez de bom?"
Endereçada ao cabeça de lista de uma formação tradicionalmente considerada de protesto,  a pergunta seria uma ocasião soberana para malhar de alto a baixo na actual maioria autárquica. Em vez disso, Paulo Macedo optou pela óbvia moderação: "O que fez bem foi aproveitar as ideias da CDU, como o alargamento das obras de saneamento... ..."  
Tendo em conta que o PCP, formação liderante da CDU, é um partido muito organizado, cujos militantes difundem o que foi decidido nos órgãos colectivos competentes, a resposta de Paulo Macedo não é mero fruto do acaso, mas um sinal evidente de que a geringonça ainda existe de facto, mesmo a nível autárquico, embora já tenha findado oficialmente.
Mais adiante, noutra pergunta um bocado venenosa, Paulo Macedo manteve-se extremamente cauteloso: "E em relação às últimas obras na cidade, foram bem feitas?"
"Os milhões gastos naquelas obras não têm efeitos reprodutivos. Não quer dizer que a Várzea grande não esteja bonita, mas não é por isso que tenho mais gente a trabalhar em Tomar. Não é o embelezamento da cidade que fixa mais população. Se houvesse dinheiro para tudo, seria bom, mas como não há, deve haver prioridades, como o desenvolvimento económico." Quem sabe sabe, mas o contexto político é o que é. A "nova centralidade" lá levou mais uma machadada, apesar de tudo. E quando mesmo os aliados implícitos discordam...
Segundo o seu cabeça de lista, a CDU -Tomar tem como objectivo a reconquista de um lugar de vereador, perdido inesperadamente em 2017. Ao contrário do então acontecido, uma relativa concentração de votos provocada pelo repentino desaparecimento dos IpT, que representavam um pouco mais de três mil sufrágios, desta vez vai haver fragmentação, visto que teremos sete formações concorrentes. Nestas condições, se a CDU conseguir manter o seu eleitorado concelhio, da ordem do 1.800 votos em 2013, pode bem acontecer que Paulo Macedo consiga a almejada cadeira do poder municipal. O que seria excelente, para os tomarenses voltarem a ter alguma oposição que se veja. Mas não é fácil, no estado actual das coisas. A abstenção é bem capaz de vir a aumentar, a par com a fuga de votos para a direita. A novidade é sempre atraente, e potenciada quando há moderação em época de protestos.

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