quinta-feira, 10 de junho de 2021

 

Foto António Cotrim - Agência Lusa

História local

RECORDANDO UM GRANDE PORTUGUÊS 

QUE NÃO ESQUECEU QUEM O DEFENDERA  ANOS ANTES

António Rebelo

As comemorações do 10 de Junho de 1991, há trinta anos, foram em Tomar. Tivemos a visita do primeiro-ministro Cavaco Silva e do presidente da República Mário Soares. Anos antes do 25 de Abril, quando exilado por ordem de Salazar,  primeiro na ilha de S. Tomé, e depois em França, por decisão pessoal, o líder socialista foi docente universitário na Universidade de Rennes e na de Paris VIII.

Durante uma das suas aulas da UV Institutions politiques portugaises -1838-1910, na sala E 110, Mário Soares foi interrompido com alguma agressividade por um grupo de exilados portugueses da LUAR, liderados por Palma Inácio. Alegavam eles que o mais tarde primeiro ministro e presidente da República, mais não era afinal que "um lacaio dos americanos e da CIA." 

Este vosso humilde escriba era então aluno e monitor no Département d'Études Ibériques et Latino-Américaines, cuja biblioteca era no mesmo corredor e próxima da sala E110. Alertado pela algazarra, para lá me dirigi, tendo verificado que se preparavam para agredir fisicamente o então chargé de cours Mário Soares. Arrisquei interromper, tentando estabelecer uma trégua, para o que adiantei que, perante o desacordo evidente, concedessem ao docente o prazo de uma semana, para apresentar documentos desmentindo que trabalhasse para os americanos ou para a CIA. Para grande surpresa minha, aceitaram a ideia e abandonaram a sala de aula, tendo eu regressado à biblioteca do departamento, onde Mário Soares veio depois agradecer-me. a intervenção. Estávamos em 1972.

Anos depois do 25 de Abril, Palma Inácio e alguns do seus seguidores da LUAR acabaram por aderir ao Partido Socialista, tal como eu. Faltou-me porém a paciência para ir mais longe e acabei por renunciar, sem nunca recorrer ao conhecimento que tinha com o secretário geral do partido. Nunca foi nem é o meu modo de estar.

Em Junho de 1991, durante as comemorações do 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, Mário Soares, então presidente da República, percorreu algumas ruas de Tomar, e ao reconhecer-me terá recordado decerto o episódio ocorrida na sala E110 da Universidade de Paris VIII, então simplesmente CUEV, para os mais entendidos nestas coisas, conforme documenta a fotografia da agência Lusa, hoje reproduzida  no Tomar na rede por José Gaio, a quem agradeço.

Recordar é viver, sendo sempre conveniente lembrar que já defendi socialistas em situações difíceis, tal como hoje os ataco em situação bem mais fácil para mim, mas igualmente difícil para Tomar. Onde continuo a procurar respeitar a herança política de Mário Soares, que nunca se acomodou, nem foi vencido pelos interesses instalados, ao contrário do que está acontecendo com militantes atuais do partido que fundou na Alemanha em 1973. Com António Barreto, Medeiros Ferreira e tantos outros emigrantes. Qu'on se le dise!

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