sexta-feira, 13 de agosto de 2021

 

Vista aérea de Barrancos

População/Política local/Informação

Censo, bom senso e boa informação

Ao compulsar dados para as crónicas anteriores, voltei a dar-me conta de que os órgãos de informação portugueses em geral procuram evitar molestar os seus leitores. Quando palpita aos seus editores que o tema pode ser indigesto, ou não publicam, ou noticiam o menos possível.
No caso do recenseamento geral da população, tendo-se verificado que há um despovoamento geral do país, o que desagrada fortemente aos respeitáveis autarcas, optaram por publicar generalidades, evitando quaisquer comparações ou destaques. Um exemplo: Os media locais informaram que Tomar perdeu 10,4% da sua população nos últimos dez anos. É muito? Quantos outros concelhos tiveram resultados semelhantes, ou ainda piores? Onde se situam esses concelhos? Têm mais ou menos população que Tomar?
Com alguma paciência, Tomar a dianteira olhou para os dados do INE disponíveis na net e eis o que apurou.
A redução da população residente é geral, em todo o país e regiões autónomas, mas a percentagem de perdas é variável. Mais acentuada no interior, mais ligeira na faixa costeira. Dos 308 concelhos, apenas 103 (um em cada 3) perderam 10% ou mais de 10% da sua população, seja por óbito, seja por emigração.
Desses 103 concelhos com 10% ou mais de 10% de redução demográfica, 97 são do continente, 3 da Madeira e outros tantos dos Açores. A maioria dos 97 concelhos continentais em questão são pequenos e situados no interior do país, havendo contudo 5 excepções:
1 - Abrantes, 34.351 residentes, -12,6%
2 - Elvas, 20.753 residentes........-10,1%
3 - Estremoz, 12.688 residentes..-11,4%
4 - Portalegre, 22,368 .."..............-10,3%
5 - Tomar, 36.444 residentes.......-10,4%
Estes conjunto de concelhos mais conhecidos desmente em parte a alegação segundo a qual o despovoamento resulta sobretudo da interioridade, uma vez que três são do interior do Alto Alentejo, mas dois outros são do Médio Tejo, a menos de 150 kms de Lisboa, e perderam mais população que Elvas ou Portalegre.
No extremo cimeiro das perdas populacionais, aparecem quatro pequenos concelhos, todos com percentagens superiores a 20%:
1 - Barrancos, 1.435 residentes, ......- 21,8%
2 - Tabuaço, 5.039 residentes...........- 20,6%
3 - T. Moncorvo, 6.822 residentes.....- 20,4%
4 - Niza...............5.951 residentes.....- 20,1%
Barrancos e Niza são alentejanos, mas os outros dois são nortenhos.

Conclusão:
Se o autor destas linhas fosse presidente de uma destas autarquias com perdas populacionais superiores a 10%, não teria coragem para se candidatar a novo mandato. Em Tomar, por exemplo, desapareceram 10,4% dos residentes, a cidade deixou de ser a primeira em população do Médio Tejo, e  passou a ser a segunda, perdeu-se o Tribunal de círculo e fecharam as duas últimas fábricas com mais de 50 operários. Tudo isto nos últimos 8 anos. Que mais irá acontecer aos tomarenses?
É fácil alegar que a gestão autárquicas pouco ou nada tem a ver com a fuga mais ou menos acentuada da população, e outras desgraças. Mas a ser assim, então qual ou quais as causas para tantas diferenças percentuais, por vezes na mesma região? Não haverá mesmo erros de governação? É com eventos musicais e outros, que vamos conseguir inverter a tendência? Vamos ter um programa permanente, do tipo "Música, variedades e animação à borla, a favor da recuperação económica e demográfica"?

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