quarta-feira, 11 de agosto de 2021

 


População/Emigração/Política local


Procurar a causa das coisas

Mesmo quem vive bem longe de Portugal, mas continua a interessar-se pelos assuntos da terra e do país, percebeu através da informação disponível que os dados do recenseamento, há pouco revelados, incomodaram seriamente os políticos nos vários poleiros. Que se apressaram a sacudir a água do capote. Lendo o que disseram, fica-se a saber que nem o governo nem o poder local têm alguma coisa a ver com a evidente fuga da população portuguesa.
Porque é disso que se trata afinal. Tentar mascarar a coisa, com considerações de circunstância sobre a natalidade, revela sobretudo a carência mental que por aí vai, pelo país fora.
É claro que o governo tem responsabilidades no desastre demográfico, tal como as câmaras municipais. Se assim não fosse, como explicar a chocantes disparidades, numa desgraça que é geral? Como se explica, por exemplo, que a Chamusca tenha perdido 15,7% da população em 10 anos, enquanto Leiria, a pouco mais de 50 quilómetros, aumentou 1,4%?
Falta, isso sim, determinar tanto quanto possível em que consistem essas responsabilidades, tanto nacionais como locais. Para isso, há que procurar a causa das coisas, em vez de se refugiar nas frases feitas do costume, fiando-se na ignorância geral do eleitorado. Que também não é tão tapado como alguns julgam.
O quadro seguinte foi elaborado por Tomar a dianteira 3, a partir de dados da Pordata e dos recenseamentos eleitorais. Conhecido o total de funcionários municipais nos anos referidos, bem como o total de eleitores inscritos nos respectivos concelhos, dividiu-se este por aquele, obtendo-se um racio eleitores/funcionários. 
A hipótese de trabalho subjacente é que, quanto mais funcionários municipais há num município, em relação aos eleitores inscritos, mais acentuada é a fuga da população. Os resultados apurados nem sempre confirmam isso, nomeadamente no caso do Entroncamento, por razões evidentes. Os que não são funcionários municipais, ou pensionistas, trabalham em empresas públicas.

CONCELHOS     Variação       2009       2013      2019
Abrantes................-12,6%........1/87........1/95.......1/87
Entroncamento.......-0,3%.........1/54........1/51.......1/54
Évora......................-5,4%.........1/41........1/45.......1/47
F. Zêzere................-9,5%.........1/63.........1/63......1/55
Leiria.....................+1,4%........1/143.......1/168.....1/170
Ourém....................-3,0%........1/139.......1/109.... 1/78
Pombal...................-7,4%........1/129.......1/139....1/109
Santarém...............-4,8%.........1/58.........1/70......1/68
Sardoal.................-10,5%........1/19.........1/22......1/17
Sertã.....................-7,1%..........1/41.........1/69......1/56
TOMAR................-10,5%.........1/91.........1/71......1/70
Torres Novas........-7,0%...........1/53.........1/67......1/58
(Para os menos habituados a estas coisas, 1/34 = um funcionário municipal para cada 34 eleitores inscritos.)
E pronto aqui fica, para leitura cuidada. Não dá respostas. Como decerto já ouviram ou leram algures, o mais útil para aprender são as perguntas. Vamos a elas?

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