domingo, 22 de agosto de 2021


Imagem copiada do Expresso, com os nossos agradecimentos (repare na bandeira portuguesa, no ângulo superior esquerdo)

Politica local/Autarquia/Habitação

Viver em Espanha é que está a dar

Numa reportagem nalguns dos principais pontos de passagem da fronteira luso-espanhola, o semanário Expresso concluiu que os portugueses estão a mudar de comportamento:
https://leitor.expresso.pt/semanario/semanario2547/html/economia/imobiliario/casas-mais-baratas-empurram-portugueses-para-espanha
Longe vão os tempos do bem conhecido anexim "de Espanha nem bom vento, nem bom casamento." Agora, mesmo não havendo bom casamento, há um bom vento que empurra os portugueses raianos para o bom alojamento. Bom alojamento, quando comparado com o português, tendo em conta a relação qualidade-preço.
Segundo a reportagem, a tendência é geral, do Algarve ao Minho, provocada pela acentuada diferença de custos. Na terra de nuestros hermanos, tanto o arrendamento como a compra de alojamento são em geral pelo menos 20% mais baratos que em Portugal.
Para além do noticiado na citada reportagem, é também conhecido que em Espanha o custo de vida é bastante mais barato, com destaque para os preços muito atractivos de automóveis, combustíveis, gás doméstico, electricidade, alimentação, etc.
Há mesmo um sector que não permite duas interpretações. A classificação igual, os hotéis espanhóis da costa mediterrânica são nitidamente mais baratos que os do Algarve, tal como os das Canárias em relação aos da Madeira.
Qual ou quais as razões deste desnível geral? As grandes  leis da economia são universais e bem claras, ainda que pouco conhecidas. Uma delas indica que os consumidores preferem sempre o mais barato, em igualdade relativa de circunstâncias. Outra especifica que comerciantes e industriais procuram maximizar o lucro, tendo sempre em conta a concorrência. O que os leva a fixar os preços de venda em função dos custos de produção.
Uma vez que em Espanha o salário mínimo é bem mais elevado que em Portugal, e os custos da mão de obra são portanto superiores aos portugueses, se eles produzem e vendem mais barato é porque os outros encargos (licenças, impostos, taxas, matérias-primas) são muito mais baratos. Só pode, porque ninguém cria emprego, trabalha, ou vende para perder dinheiro. Só em Portugal é que se dizia em tempos idos, estava o Botas em S. Bento,  que "a agricultura é a arte de empobrecer alegremente".
Temos portanto, em conclusão parcial, que Espanha é mais modesta a cobrar impostos e taxas que Portugal. Há mesmo diferenças de se ficar de boca aberta. Um automóvel da mesma marca e modelo pode custar quase o dobro quando comprado em Elvas e não em Badajoz, que fica a seis quilómetros. Pagando menos ao Estado espanhol, comerciantes e industriais também cobram menos aos consumidores, que somos todos nós. É isso que mostra a reportagem do Expresso. Cada vez mais portugueses da raia, ou nem tanto, optam por viver em Espanha e continuar a trabalhar em Portugal. 
Para eles é só vantagens. Estão próximos na mesma, e a vida é mais barata. Além disso, como passam a ser residentes fiscais em Espanha, por lá habitarem mais de 183 dias por ano, pagam os impostos espanhóis que são mais simpáticos. A começar pelo IVA taxa normal, de 23% em Portugal e 21% em Espanha. (ver Adenda no final)
Toda esta enfadonha lengalenga para chegar aqui: Se os portugueses mais próximos da fronteira estão a ir para Espanha com armas e bagagens, atraídos pelo custo de vida mais acolhedor, o que levou dez por cento da população tomarense a debandar nos últimos dez anos? Não haverá também uma relação com o custo e a qualidade de vida? O tal balanço custo/benefício?
O entendimento de Tomar a dianteira fica para o próximo texto.

ADENDA
Em Espanha o Imposto de Renda, equivalente do nosso IRS, comporta duas taxas distintas, uma para o Estado, outra para o governo da região autónoma de residência do contribuinte.
No caso da região autónoma de Madrid, quem ganha até 33.077€ anuais, paga 15% para o Estado, mais 13,3% para o governo autónomo, num total de 28,3%. Se ganhar mais de 32.077€ até 53.407€ anuais, paga 15% para o Estado mais 17,9% para o governo local, num total de 32,9%. Cabe assinalar que a taxa de imposto de renda de Madrid é das mais elevadas de Espanha.
Em Tomar e nesses mesmos escalões, quanto é que você paga no total?

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