terça-feira, 10 de agosto de 2021

 


Autarquia/Património

As alegadas ruínas do forum romano inventado

O blogue Tomar na rede noticia que as obras do alegado forum romano, atrás do quartel dos bombeiros, decorrem às escondidas. Tudo muito bem vedado, para que ninguém estranho possa ir meter o nariz. Compreende-se. Aquilo não passa de uma patranha monumental, salvo provas credíveis que continuam por apresentar.
Vendo bem, trata-se da convergência de duas tendências muito fortes, existentes na política em geral e tomarense em particular. Por um lado, aquela ideia de que uma mentira muito repetida passa a ser uma verdade. É bem conhecida, a esse propósito, a posição do ditador Estaline: -Caluniai camaradas! Caluniai, que sempre fica alguma coisa! Neste caso do inventado forum, ficou a ideia.
Por outro lado, a triste situação portuguesa resultante dos fundos europeus. Em muitos casos, as obras são feitas não para que venham a ter alguma utilidade prática, mas apenas porque interessam para mostrar aos papalvos, e para assegurar confortáveis retornos a bastante gente. Uns legais, outros nem tanto, outros enfim totalmente condenáveis. Basta olhar para a Várzea grande, por exemplo.
Neste patético caso do alegado forum romano, as coisas começaram logo mal. Com escavações custeadas por dinheiros públicos, nunca houve adequada fiscalização, e muito menos acompanhamento científico idóneo. Quem dirigia os trabalhos trabalhara antes em Conímbriga, onde efectivamente há ruínas de um forum romano. Por conseguinte, achou que aqui em Tomar também deve ter havido um, apostando no que resta de duas igrejas ali identificadas até ao século XVII: Santa Maria de Selho e S. Pedro Fins.
Na época, os arqueólogos ainda eram poucos, e os recursos técnicos para autenticar ou não os achados, raros e bastante caros. Foi assim que a invenção do forum romano foi fazendo o seu caminho, praticamente sem contestação. E os tomarenses tiveram mesmo assim alguma sorte, por não terem aparecido também alguns restos da arca perdida, do conhecido filme dos salteadores da dita. Sucede que actualmente as condições são outras. Há excelentes especialistas e abundantes recursos para validar ou não os achados arqueológicos.
Basta recorrer a imagens espectrais de profundidade, recolhidas a partir de drones, para ficar a conhecer  o tipo e a extensão dos restos ainda enterrados. Depois é só datar os achados, recorrendo ao carbono 14 ou similares. E acabam-se as dúvidas, as suputações e as invenções
A actual maioria socialista, por razões que nunca explicou à população, mas que terão a ver decerto com tudo o acabado de expor, resolveu gastar mais de meio milhão de euros numas construções para valorizar o alegado forum romano, e mostrar os raros e pobres vestígios encontrados, antes de obter adequadas garantias da autenticidade do forum naquele espaço. Optaram por uma espécie de micro parque temático romano. Do tipo "Pode não ser tudo autêntico, mas é muito bonito". O eleitorado engole tudo. Estão no seu direito, uns e outros. Toda a gente tem o direito de cometer os erros que quiser. Sobretudo os eleitos, porque os contribuintes pagam sempre. Que remédio!
Dentro de alguns anos, quando faltarem os recursos europeus, e concluírem que aquelas obras apenas serviram afinal para gastar dinheiro, e para arranjar mais meia dúzia de empregos, à custa do orçamento municipal, talvez haja então uma maioria autárquica, assaz séria e com arcaboiço cultural, para proclamar, após ter lido as conclusões de idóneo relatório técnico antes encomendado, "Acabou o regabofe. Aquilo vai abaixo, os restos são tapados, com uma placa a indicar o que entretanto ocorreu, e o terreno será vendido em hasta pública, para construção de alojamentos."
Até lá, é aguentar tomarenses. E se possível lembrar-se em Setembro. Antes de fazer a cruzinha. Porque os verdadeiros culpados são sempre os eleitores. Convém lembrar.

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