segunda-feira, 9 de agosto de 2021

 

Bairro Senhora dos Anjos- Casas de renda económica, com bons carros à porta.
Foto Rádio Hertz, com os nossos agradecimentos

Política local/ Autarquia

Despejar milhões 
sobre os problemas 
nem sempre os resolve

 Acabei por ler toda a entrevista da querida presidente Anabela Freitas ao MIRANTE, graças à amabilidade de leitores, aos quais aqui agradeço. Trata-se de uma bela peça jornalística, conduzida e fotografada pelo filho do dono do semanário, (que considera Tomar o concelho mais bem gerido do distrito), na qual há três pontos, além dos antes focados, que como tomarense, de 80 anos bem vividos, não posso deixar de comentar.
O primeiro é o turismo. Entre outras coisas não demonstradas, Anabela Freitas fala de um plano estratégico de desenvolvimento turístico. Que plano é esse? Quem o elaborou? Quanto custou? Quais são os seus objectivos principais? Quando foi debatido com a população local? O tempo do "quero, posso e mando, execute-se", já lá vai. Agora é forçoso mostrar, explicar, justificar. Sob pena de se gastar dinheiro para nada. Ou melhor: só para argumentação eleitoral. 
Aquela do "não queremos excursões; queremos famílias que fiquem duas ou três noites", faculta saudáveis gargalhadas entre profissionais, daqueles que acompanham os turistas nos circuitos e nas visitas locais. Que também preferem notas de 50 euros, em vez de notas de 5, como se calcula. O problema é como conseguir daquelas em vez destas.
O crescente êxodo da população, com Tomar, -10,4% (33 mil eleitores) em 4º lugar absoluto no distrito, só ultrapassada por Chamusca, -15,7% (8 mil leitores), Abrantes, -12,6% (32 mil eleitores) e Sardoal, 10,5% (3.200 eleitores), levou a nossa presidente a considerar que tal se deve também à falta de alojamentos.
Tanto quanto se sabe, que a autarquia é opaca quanto baste, nesta como noutras matérias, sem qualquer suporte prévio adequado, Anabela Freitas anunciou uma verba europeia de 12 milhões de euros, (da bazuca?), para a construção de casas de renda limitada.
Mesmo não havendo qualquer evidência de que a população emigra por falta de casas, faz todo o sentido esse projecto socialista. Quem pensa e age no sentido de que o concelho de Tomar seja cada vez mais uma terra de pedintes, saca-subsídios, e outros dependentes do erário público, estadual ou municipal, também deve considerar que, oferecendo no futuro bons apartamentos por tuta e meia, a autarquia vai atrair mais umas largas centenas de votantes fiéis, sempre na mira da  gamela estatal e/ou municipal.
Há contudo dois perigos, uma ilusão de óptica e um erro de análise. De ilusão de óptica porque, à primeira vista, 12 milhões seria muito dinheiro, caso fôssemos um país de gente séria e frugal. Tipo escandinavo ou holandês, por exemplo. Acontece que não somos. E olhando para as obras da Várzea grande, que custaram mais de 3 milhões de euros, para um resultado daqueles, é bem possível que os tais 12 milhões anunciados não dêem afinal para tantas casas, como a srª presidente imagina. A dona corrupção baralha os melhores cálculos.
Finalmente o erro de análise. Sei que a respeitável autarca lê muito e se considera une femme du monde. Deve portanto saber que o sistema de regalias sociais em vigor no México é muito superior ao dos Estados Unidos, os odiados States. Porque será então que são os mexicanos a fugir para os USA, e não o inverso?
Tendo em conta este exemplo longínquo, há a certeza de que basta oferecer casas muito abaixo do preço de custo, e por isso pagas pelos contribuintes todos, para atrair novos habitantes? Não será apenas mais uma opção tipo realojamento dos ciganos locais, que se vem arrastando por falta de acordo entre as partes?
"A política é a arte do possível, toda feita de execução". Quem começa a fazer batota, nunca mais consegue parar.

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