Política local/Autárquicas 2021
A ilusão (e a manha) de quem está no poder
Li no mesmo dia dois comentários, da autoria de simpatizantes socialistas, prevendo "uma vitória gorda para o PS" um deles e "quatro eleitos PS" o outro. Respeito as opiniões alheias, sobretudo neste caso, pois os comentários estão muito bem redigidos e um deles é até subscrito pelo meu bom amigo e conterrâneo, o conhecido jornalista e viagista António Freitas.
Dito isto, ignoro em que dados se basearam, para além dos textos e conversas promocionais do próprio PS. Não tem mal algum. Apenas revela a tendência para confundir o desejo com a realidade. "Votar com o coração", como é dito num dos citados comentários.
É uma situação muito comum, o triunfalismo balofo (e a manha) de quem ocupa o poder. Em 2013, por exemplo, o cabeça de lista laranja, que acumulava com a presidência herdada da edilidade, também garantia que ia vencer "porque tinha os presidentes de junta na mão". Contados os votos, perdeu por menos de 300, mas perdeu e não voltou a apresentar-se.
Oito anos decorridos, estamos praticamente na mesma. "Vitória gorda do PS"? "O PS está muito forte"? Simples conversa promocional, que pode ou não resultar. A priori, tem poucas hipóteses. Anabela Freitas é muito simpática, boa oradora, insuspeita de corrupção, e fez tudo o que era possível para comprar votos, mas arrasta consigo também uma longa série de insucessos, de falhanços, de meias verdades e de aversão à crítica e ao diálogo. Os tomarenses estão atentos, embora nem sempre pareça.
Em relação a 2017 muita coisa mudou. Há agora menos 820 eleitores no concelho, um elefante na sala, chamado fuga da população, que atingiu 10,4% nos últimos dez anos, menos 2.496 eleitores inscritos no primeiro mandato PS, e sete formações concorrentes. Nestas novas condições, que poderá vir a acontecer?
A julgar pelo ocorrido no passado, dos 34.031 inscritos, abstenção + votos brancos + votos nulos devem representar sensivemente metade. Restam 17 mil votos válidos. Ao contrário de 2017, em que o CDS e o PTP obtiveram menos de mil votos em conjunto, desta vez não se vislumbra que tal possa vir a acontecer. Até mesmo o VOLT, que é estreante mas com gente dinâmica e muito sabedora no uso da NET.
Procurando ser justo e equitativo, atribuo à partida mil votos a cada candidatura e depois mais mil votos às quatro formações que me parecem com hipóteses de os conseguir (PS, PSD, CHEGA, CDS). Temos assim que, feita a primeira atribuição, restam 10 mil votos. Efectuada a segunda sobram apenas 6 mil votos. O que dá nisto, faltando atribuir os 6 mil votos finais.
PS > 2.000
PSD > 2.000
CDS > 2.000
CHEGA > 2 .000
BE > 1.000
CDU > 1.000
VOLT > 1.000
Mesmo que os totais atribuídos ao CDS e ao Chega possam estar empolados, são compensados pelos do BE e da CDU, que estão subavaliados. Tanto uma formação como a outra já obtiveram anteriormente bastante mais de mil votos no concelho.
Dividindo por dois os 6 mil votos ainda por atribuir, teremos o PS com um total de 5.000 votos e o PSD com outros 5.000. Onde é que está a possibilidade do tal "resultado gordo"? Onde é que cabem os 4 vereadores socialistas?
Recordo que em 2017 o PS averbou 7.972 votos, e o PSD, com um candidato de recurso, pois o inicial falecera entretanto, 6.817 votos. Uma diferença de apenas 1.155 sufrágios. Apesar do convénio de última hora entre o PS e os eutanasiados IpT.
No estado actual das coisas, a um mês da ida às urnas, mesmo com um PSD muito fraquinho, parece-me que os socialistas que também são crentes, o melhor que têm a fazer é deslocar-se a uma cidade próxima, onde há uma capelinha com uma azinheira ao lado, e rezar...
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