sexta-feira, 6 de agosto de 2021

 

Instalações agora devolutas da Fábrica de Papel do Prado

Política local/Autárquicas 2021

É sempre a mesma narrativa

Foi o camarada Sócrates que, na sequência do seu MBA Executivo de Sciences Po - Paris, trouxe para Portugal a agora bem conhecida expressão "É tudo uma questão de narrativa". Anteriormente usava-se mais aquele aforismo popular, segundo o qual "Todos os asnos comem palha, mas é preciso saber-lha dar."
De que se trata afinal? Da maneira de relatar factos ou ideias, da qual depende o seu significado e entendimento pelo destinatário. Dito de forma mais simples: de tentar ludibriar  pessoas de boa fé. 
Na sua utilização tomarense, parece mesmo haver um determinado modelo  narrativo, cujo principal objectvo é sempre confundir o eleitorado, de forma a alavancar a política da maioria PS local. Mesmo se apenas de modo transitório, quando a narrativa se desmorona prematuramente.
Para não ir muito longe no tempo, examinemos de forma sumária a agonia do Prado e da Platex, duas empresas tomarenses que faliram. Em ambos os casos, houve intervenção oral de Anabela Freitas, que asseverou publicamente haver investidores interessados em recuperar aquelas empresas. No caso da Platex acrescentou até que um deles pretendia, não só salvaguardar, mas mesmo  aumentar os postos de trabalho.
Estávamos nisto, quando se veio a saber que afinal as instalações fabris da Platex já estavam a ser desmanteladas por um sucateiro, tal como antes acontecera no Prado. Mesmo omitindo deliberadamente que, no caso da IFM-Platex, havia um pequeno calote de apenas 20 milhões de euros, a narrativa afundou-se porque os credores pressionaram o gestor de falência, obrigando este a aceitar a proposta dos sucateiros antes das próximas autárquicas, assim contrariando o que se pretendia: manter as promessas de recuperação até ao final de Setembro, por razões óbvias.
Compreende-se por isso que Anabela Freitas não esteja nada satisfeita com o referido gestor, ainda que a sua narrativa lhe tenha facultado um bom papel durante algum tempo.
Caso semelhante é o da Estalagem de Santa Iria. De narrativa em narrativa, já se passaram três anos desde o encerramento compulsivo, e ocorreram muitas peripécias, para se ficar agora a saber, na versão do vice-presidente da câmara, que no essencial o problema está resolvido, devendo a estalagem abrir de novo...na páscoa de 2022.
Entretanto há umas eleições autárquicas, em que os eleitores vão votar, convencidos de que o imbróglio da Estalagem de Santa Iria está resolvido. Estará mesmo? Ou é apenas mais uma narrativa alavancando a câmara?
Não seria caso virgem porque, em relação ao desastre urbanístico da Várzea grande, vaticinou-se que ali não há condições para o funcionamento rentável de um quiosque, pelo que o respectivo concurso público de arrematação ficaria deserto. Surpresa: Apareceu um único concorrente, que já é titular da exploração da cafetaria municipal da Cerrada dos Cães, junto ao castelo. Simples acaso? Parece que não. O concurso foi em Abril, o quiosque nunca chegou a abrir e soube-se agora, graças a uma pergunta da oposição, que o concessionário pediu e obteve um adiamento até ao ano que vem, alegando as dificuldades actuais. Quando ele arrematou a concessão, não estávamos já em plena pandemia? Não se tratará apenas de demonstrar, só até às eleições, que a maioria PS resolveu com êxito a questão do quiosque?
Mais difícil ainda, como era uso dizerem os locutores dos circos, a câmara acaba de anunciar que vai vender à empresa hoteleira Vila Galé o conjunto ex-convento de Santa Iria, ex-CNA feminino, para ali vir a funcionar um hotel de cem quartos. Um investimento previsto de 10 milhões de euros, segundo a mesma fonte. Que todavia não revelou ainda o montante da venda. Além disso, há como usualmente umas tranquibérnias que podem muito bem vir a alongar o processo.
Ao que foi noticiado, apareceu um outro concorrente, que o júri entendeu não reunir as condições, por não cumprir o caderno de encargos, o que levou à sua exclusão. O problema é que este concorrente dispõe agora de um prazo para contestar a decisão, bem como de um prazo suplementar para eventual contestação jurídica da resposta que entretanto lhe vier a ser dada. Ou seja: Apesar da evidente alegria camarária, bem presente no habitual discurso triunfalista, nesta altura o mais provável é que, a haver mesmo venda do referido conjunto de ruínas, tal será só depois das eleições. 
Como vai acontecer com a reabertura da Estalagem, com a inauguração do quiosque da Várzea grande, com a conclusão das obras da Torres Pinheiro-Combatentes da grande guerra, ou com a implementação dos 150 postos de trabalho da Air Liquide.
À cautela, o melhor será os eleitores tomarenses, que ainda não venderam o seu voto, votarem em quem lhes parecer mais capaz para gerir os destinos do concelho, mas ignorando as sucessivas narrativas, cujo final raramente ou nunca coincide com o proclamado antes.
"Governar é fazer acreditar", escreveu Nicolau Maquiavel, há mais de cinco séculos. Mas mesmo com as habilidosas narrativas modernas, só acredita quem quer. Ou porque lhe convém.

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