Política local/Autarquia/Projectos
O exemplo
da cidade-santuário de Lourdes (França) - 2
Traduzido do jornal LE MONDE online
por António Rebelo, ancien de Paris VIII
Por Jules Fresard
Publicado em 13 de Agosto 2021, às 17H33, 6 minutos de leitura
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"Lourdes deve ser a cidade da paz. A minha ambição é organizar congressos para abordar todos os conflitos e convidar, por exemplo, o presidente dos Estados Unidos", afirma Thierry Lavit
O presidente da câmara pretende também transformar o palácio de congressos num auditório. "Vamos organizar eventos religiosos, mas o que eu pretendo lançar sobretudo são eventos relacionados com a medicina", confia este operador de electroradiologia, que já trabalhou no hospital da cidade. Apaixonado por motos, sonha igualmente com uma "route 65" a atravessar Lourdes, homóloga da mítica "route 66" americana. Um projecto até agora secreto.
Tem muitos sonhos, Thierry Lavit, que admite uma ligação de família com Bernadette Soubirous -a jovem camponesa que terá visto a virgem Maria 18 vezes em 1858- mas recusa dizer se é ou não crente, admitindo querer revolucionar o destino da sua terra de 13.000 habitantes [sensivelmente a mesma população de Fátima, que depende da Câmara de Ourém, nota do tradutor]. "Lourdes tem de ser a cidade da paz, proclama. A minha ambição é organizar congressos para abordar todos os conflitos e convidar, por exemplo, o presidente dos Estados Unidos. Para já seria muito útil a vinda do Papa, que engendraria na cidade retornos económicos para os próximos cinco anos."
Antigo cantor de rock
Encabeçando a câmara desta cidade-santuário de peregrinações católicas, o presidente Lavit destoa. No seu gabinete dos paços do concelho mandou pendurar a foto de um cantor de rock em pleno concerto, sob a luz dos projectores. Mike Jagger? Não. Ele próprio, Thierry Lavit, na altura um dos músicos do grupo Virus. O eleito compara a sua vitória municipal com a de Emmanuel Macron, em 2017. Já recebeu o presidente, em 16 de Julho, acompanhando-o, como é tradicional, ao cume onde está a fortaleza, e assegura que ele aderiu a sua visão para Lourdes. Até arranjou uma brincadeira a propósito: "Temos o Macron nacional e eu sou o Micron local. Sou mesmo um caso. Um cantor de rock eleito presidente de câmara, numa cidade conservadora como Lourdes, é mesmo um grande sucesso." Talvez, mas Thierry Lavit venceu porque conhece muito bem os problemas locais. Primeiro como membro do Partido Radical foi da oposição municipal entre 2001 e 2014. O seu actual projecto político, "independente" como insiste, foi amadurecido longe dos paços do concelho, no hospital onde esteve internado para tratar um cancro, de 2016 a 2019.
"É cedo para enterrar o turismo religioso. Lourdes é conhecida no mundo pelo seu santuário e não pelas suas montanhas", explica François-Xavier Brunet, presidente da Câmara de comércio da região dos Altos Pirinéus
Todos os actores económicos estão de acordo sobre a urgência de diversificar a oferta turística. "Tudo o que possa ajudar a relançar Lourdes é uma boa ideia", diz Hervé Jeanson, presidente do club dos hoteleiros e restaurantes de Lourdes, um dos sindicatos hoteleiros da cidade.
Da oposição, Marie-Christine Steckel-Assouère, também independente, apoia os projectos do presidente Lavit. Mas levanta toda uma problemática que os pode vir a contrariar. Desde o início da pandemia, metade dos trabalhadores sazonais, cerca de 1.200 pessoas, abandonaram a cidade. "Os profissionais começam a sentir dificuldades para encontrar mão de obra", diz a senhora. "Começa a tornar-se evidente uma crise de emprego em Lourdes."
Outros, pelo contrário, mostram-se cépticos em relação às ideias do presidente e a uma eventual mudança de objectivos. Para François-Xavier Brunet, presidente da câmara regional de comércio e indústria de Tarbes e Altos Pirinéus, "temos de acabar com essa ideia empolada que o Covid 19 tornou evidente uma actividade em perda. Sem Covid 19, o ano de 2020 teria registado um aumento da frequência. É cedo para enterrar o turismo religioso. Lourdes é conhecida no mundo pelo seu santuário, não pelas suas montanhas."
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Jules Fresard
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