domingo, 8 de agosto de 2021

 

Política local/Urbanismo/Autárquicas 2021

Os Moisés locais e as Tábuas da lei

Deve ser em geral sabido, pois Tomar é uma terra de católicos, que durante a fuga do Egipto, quando até o Mar vermelho se abriu para os deixar passar, Moisés subiu ao Monte Sinai e daí mostrou as Tábuas da lei, geralmente designadas por Dez mandamentos.
No vale do Nabão nunca houve Êxodo, que se saiba, nem as águas do rio se abriram para deixar passar os fugitivos, nem foi preciso os Moisés locais subirem a um dos montes circundantes para mostrarem ao povo as tábuas da lei. Como bem sabem, entre outros, os leirienses da Sólido favorito,  que uma vez ganho o concurso público para arrematação da exploração da municipal Estalagem de Santa Iria, levaram logo com o catecismo na testa.
O concurso municipal era ilegal porque não respeitara o disposto no também municipal plano de pormenor do Açude de Pedra, uma coisa já esquecida, do tempo do odiado Paiva. De reclamação em reclamação, o concurso nem chegou a ser anulado, tal era a incongruência, mas segundo os moisés locais as pretendidas obras de ampliação não eram possíveis, por contrariarem o disposto nas aludidas tábuas da lei municipal.
Cansados de tanta tranquibérnia, e sabedores de que a igreja municipal tomarense arranja sempre tábuas da lei à medida das pretensões dos moisés, acabaram por negociar e vender o direito à concessão a uns empresários nabantinos, após terem muito a propósito transferido juridicamente esses direitos da primitiva Sólido favorito para uma nova Era uma vez em Tomar, uma designação muito western Sérgio Leone. Mero acaso?
Comprada a concessão, por gente que já tem unidades hoteleiras na cidade, não podendo portanto ignorar as tábuas da lei, deu-se o milagre. A menos de dois meses das eleições, os moisés locais declararam parcialmente alteradas as ditas tábuas, conhecidas como planos de pormenor, o que torna possível, não só a ampliação pretendida da Estalagem, mas até a resolução, pelo menos inicial, do imbróglio ex-Convento de Santa Iria/ex-CNA feminino. Escreve-se parcialmente alteradas no duplo sentido do vocábulo parcial, que tanto pode significar em parte como de forma injusta, com parcialidade.
É meu entendimento que, em qualquer outra cidade da Europa Ocidental (menos no sul da Itália por razões óbvias), haveria rigoroso inquérito administrativo e judicial, julgamento e eventual condenação, por práticas inaceitáveis num país da União Europeia. Mas estamos em Tomar, uma terra em que até os próprios naturais já deixaram de acreditar, como mostra a crescente fuga da população. O princípio do êxodo final?
Resta, por conseguinte, aguardar as cenas dos próximos capítulos, sendo evidente que vai haver alterações, logo a seguir à contagem dos votos, qualquer que venha a ser o resultado. Os abutres são insaciáveis. Afastam-se dos cadáveres ao pressentirem perigo, mas voltam a poisar e bicar logo a seguir.
Pobre terra!

5 comentários:

  1. Esta ânsia por pôr um hotel no Convento de SAnta Iria é desconcertante.. a equação com os dados actuais (PP em vigor) é impossível: PP diz 5100m2 em 3 pisos acima do solo, CAVES para estacionamento - nao bastou o que aconteceu no Pavilhão..; do que vejo as notícias dizem:
    Vila Galé, 100 quartos, 5*****, 10 M€ de investimento pelo privado..

    MAS.. é preciso voltar à realidade -para um programa destes é preciso mais pisos, mais área.. para se dar cumprimentos aos quesitos de classificação do TurismodePortugal, restaurantes, piscinas, etc

    O exemplo mais proximo, e com algum paralelo é o Vila Galé Palácio dos Arcos em Oeiras: Oeiras concedeu em direito de superficie (VG pagando 4k€/mês..) palácio por recuperar com 2000m2
    e terreno vazio ao lado, com obrigação de VG de criar sala/museu aberta ao publico.
    Sem custo de aquisição do terreno, em 2013 VilaGalé disse que gastou 10M€ para construir num edificio novo tipo caixote com 70 quartos (e mais 6 no palácio)

    Assim.. é uma equação impossível e tentar meter um hotel com um programa destes num sitio como aquele é não ter noção nenhuma

    http://www.cm-tomar.pt/images/CMT/viver/documentos/obras_particulares/planos_vigor/PlanodePormenordoFlecheiroeMercado.pdf

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    1. Muito agradecido por este seu comentário. Permita-me um palpite. Pelo modo como aborda a questão, escreve, documenta, e exemplifica, parece ser companheiro/a profissional do grande Paládio. Por conseguinte, se não erro, já deve ter intuído que, no referente ao processo Santa Iria, a perspectiva é que se aguente de pé e iluda q.b. até que a Vila Galé assine a escritura. Idealmente, até 26 de Setembro próximo. Depois tudo muda. Como é uso dizer-se no futebol, o que hoje é verdade, amanhã é mentira, ou vice-versa.
      Como decerto já ouviu dizer, os pastores, mesmo os fraquitos, levam os rebanhos para onde querem sem qualquer dificuldade, por maiores que sejam. A tal ponto assim é que agora um deles, mais versado nesta coisas da net, até arranjou um aplicativo que lhe permite saber em qualquer altura por onde andam ovelhas, carneiros e cordeirinhos.
      Ninguém pára o progresso.

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    2. Caro António Rebelo, não entendi parte da sua resposta (por falha minha com certeza), mas de qualquer forma, o que fiz foi ver pela rama o processo do PP (o processo quer dizer, o que a CMT tem no site que nem 1/10 do processo é.. enfim, transparência) que não conhecia e apresentar a minha opinião neste seu espaço - o único que conheço onde se pode saber e comentar sobre o que se passa em Tomar de uma forma aberta

      Retomando o assunto do Sta Iria, o cenário mais plausível será esse que refere - assinatura para inglês ver - mas existe outro mais preocupante - por desespero, aceitar um negócio com contrapartidas abusivas (porque Vila Galé não anda nisto para perder dinheiro, pelo contrário)

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    3. Queira ter a bondade de especificar qual a parte que não entendeu, para anfrarebelo@gmail.com, e terei todo o gosto em tentar ser mais claro.
      Entretanto, tem toda a razão. Vila Galé não anda nisto para perder dinheiro. (Estou daqui a ver o Vila Galé Praia do Futuro - Fortaleza - CE- Brasil, a pouco mais de 300 metros da minha varanda). Nestas condições, uma de duas, ou é jogada combinada, com contrapartidas abusivas, ou logo que se dêem conta da "enrolação", nomeadamente dos problemas do arco, do café e da piçarra, entre outros, calçam os patins e vão dar uma grande volta sem regresso previsto.

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