Imagem Tomar na rede, com os nossos agradecimentos
DEMOGRAFIA: UM PROBLEMA DO DEMO
Há pois foi! A publicação dos resultados dos CENSOS na altura em que foi feita, constituiu para os autarcas um problema do Demo, que o mesmo é dizer do Diabo. Porque não é mesmo nada fácil sacudir a água do capote a esse respeito, e estamos em plena pré-campanha eleitoral. Que responder, quando a pergunta é "Mas a população está a votar com os pés porquê?"
Assim à primeira vista, a responsabilidade pelo rombo populacional em Portugal só pode ser do governo, e não das autarquias. Todavia, pensando um bocadinho mais, conclui-se que não será bem assim. Se fosse, a sangria seria semelhante em todo o país. E não é. Longe disso.
Havendo uma fuga generalizada do interior para a faixa costeira, as taxas de migração são ainda assim bem diferenciadas, tanto na costa como no interior. Há em ambos os territórios concelhos que encolhem mais do que outros, bem como, mais raramente, alguns que crescem mais do que outros.
Donde parece resultar que, muito dependendo do governo, cada autarquia tem também grandes responsabilidades na fixação de população. O problema é que, por manifesta falta de adequada preparação académica, a maior parte dos eleitos se recusa a ir por aí. É muito mais fácil desculpar-se, tentar sacudir a água do capote, culpar os outros.
Vejamos mais em detalhe os três concelhos da nossa região que mais população perderam nos últimos 10 anos: Chamusca (menos 14,7%, Abrantes menos 12,5% e Tomar menos 10,4%). Abrantes tem sido dirigido pelo PS nos últimos 20 anos, Chamusca e Tomar só desde 2013.
Deixando de lado o caso da Chamusca, por se tratar de concelho mais pequeno e mais agrícola, centremo-nos em Abrantes e Tomar. Antes do 25 de Abril eram dois concelhos importantes. Abrantes com o Regimento de infantaria 2 e os centros industriais de Tramagal e Alferrarede. Tomar com o Quartel general, o Regimento de infantaria 15, o Hospital militar, a fábrica de fiação e três fábricas de papel.
Essa base económica militar e industrial segurou a população, acolhendo mesmo migrantes da Beira alta e da Beira baixa, que optaram pelo país, em vez da emigração "a salto" para França.
Em contrapartida, Ourém não tinha por essa época nem estrutura industrial, nem guarnição militar, nem adequada cobertura escolar. Prevaleceu assim a emigração em massa para França. De tal forma que, mesmo meio século mais tarde, ainda se diz na brincadeira, em Espite, Formigais ou Caxarias, por exemplo, que durante o verão, em cada dois carros três são de matrícula francesa. Emigrantes em férias na terrinha.
Explica-se assim que Ourém tenha perdido menos de 5% da população nos últimos 10 anos, contra 10,4% em Tomar.. Há muitos emigrantes que regressaram e montaram os seus negócios, bem como outros que estão recenseados, mas na realidade andam lá e cá.
Mas o problema de Tomar é duplo. Por um lado, aceita-se pacificamente o desaparecimento dos militares e das fábricas, sem que alguém se preocupe em procurar saber porquê. Por outro lado, os sucessivos autarcas nunca se preocuparam com essa aborrecida questão da demografia. Ainda hoje, quando confrontados com a evidente fuga da população, alegam que se deve à falta de emprego e à falta de alojamento abordável. Será mesmo? Em que se baseiam, para chegar a tais conclusões? Onde estão os estudos que confirmem tais opiniões?
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, escreveu Camões, mas há realidades que se mantêm teimosamente. Quando eu era novo, pessoas amigas, bem inseridas na sociedade tomarense, foram me dizendo, quando regressei de França, " És de Tomar, por isso toma cautela. Esta terra sempre foi madrinha para os fora e madrasta para os seus filhos".
Já passaram 50 anos e sinto que continua a ser assim. Por isso me divirto quando leio ou oiço autarcas, acossados pelos dados dos Censos, proclamar que pretendem "atrair população". Cuidar da que já cá está, pelos vistos não é preciso. "Vão lá votando e aguentem-se", é o que parecem pensar. Quando muito vão oferecendo uns eventos, umas comezainas, sobretudo em anos eleitorais. Para amainar. O pior é o custo de vida que vai aumentando a olhos vistos. Ao invés da qualidade de vida, que vai baixando.
Com gente assim, está-se mesmo a ver que, não tarda nada, resolvemos a crise. O último a sair que apague a luz e feche a porta.
Inverter o declínio demográfico só com mais natalidade.. mas quem quer viver (e ainda por cima com crianças!! )num concelho onde em grande parte do território não existe:
ResponderEliminar- abastecimento de água potável condigno (em qualidade e disponibilidade) as pessoas preferem(i.e são obrigadas) a ir abastecer-se com garrafões aos concelhos vizinhos, a fontes;
- não existem redes de esgotos (as pessoas têm que pagar do seu bolso a limpeza de fossas);
- não existe internet (banda larga) em grande parte do município;
- cobertura de escolas/infantários fora da cidade é sempre a reduzir(e as que existem, são relíquias do passado em termos de habitabilidade e equipamentos pedagógicos)
- cobertura telemóvel é o que conhece
- serviço de recolha de resíduos sólidos e reciclagem é o que se vê
- gás natural - apesar de passar o principal gasoduto nacional pelo território e aqui ramificarem os ramais para Tomar e Ourém , no seu percurso as habitações (e industrias) não tiram partido do mesmo..
- burocracia - já se sabe que fazer alguma coisa que envolva a CMT é terrível, seja cnstruçao nova ou reabilitação.. a incerteza de gastar dinheiro em projetos e terrenos e depois ver tudo isso esfumar-se por anos de demora na aprovação dos projetos.
Mesmo situações simples como sugestões e melhorias não sequer respondidas / tidas em conta...
Vivem dentro de uma carapaça - a opacidade é terrível, noutras câmaras é possível ver online licenças de utilização (o próprio documento!), loteamentos (seus alvarás, suas restrições), etc etc (dou um exemplo que nem é o melhor mas é facilmente acessível sem qualquer registo https://geocascais.cascais.pt/).
Por outro lado, é um concelho que tem tantos ou MAIS recursos do que os envolventes:
- 9 NOVE estações e apeadeiros das linhas do Norte e ramal de Tomar (e mais 2 a umas centenas de metros do limite do concelho)
- A13, IC9 que ligam em minutos a A1, A23..
- Património histórico, cultural, paisagístico, etc etc.. que se sabe (ou melhor que poucos sabem)
- rio Nabão (rede Natura 2000 , sítio Sicó-Alvaiázere!)
- albufeira do Castelo de Bode
- Politécnico
- Tribunal
- Aquartelamento RI15
- Hospital (ok, é mais um centro clínico não especializado, mas Ourém não tem e veja-se se não encontraram solução..)
Por isso.. porque é que as pessoas não se fixam e fogem para concelhos vizinhos, que até aparentam ter menos valências e recursos?
Permita-me que acrescente uma frase feita bem conhecida, para confirmar e reforçar tudo quanto escreve neste seu comentário. É costume dizer-se, com vocabulário menos erudito, "Quem não sabe fazer amor, até os pelos púbicos o incomodam."
EliminarO caso tomarense é ainda mais grave, pois apesar de se perceber nitidamente quais são as carências de quem devia mandar, mas não sabe, o poder continua a tentar enganar a população, dizendo que vai tudo muito bem. Que é só sucessos.
Vê-se! Os 10% que deram à sola, foi só para irem fazer turismo alhures?