quarta-feira, 25 de agosto de 2021

 


Autárquicas 2021

O COMBATE DAS ALMAS GÉMEAS

Uma tentativa de análise política a muito longa distância geográfica

Usando o modelo USA, que é como quem diz, indo do principal para o secundário, a um mês da ida às urnas, entregues e homologadas as listas, "les jeux sont faits, rien ne va plus". Mesmo em Tomar, que destoa de toda a vasta região centro. Salvo melhor informação, é a única "cidade média" em que o PSD se apresenta ao eleitorado sem companhia. Antes só que mal acompanhado, pensarão eles.
Salta no entanto aos olhos dos mais prevenidos que a candidatura solitária laranja é afinal o resultado da ideia inicial: Combater o PS, o inimigo principal, com armas iguais. Se eles não se coligam, nós também não. René Girard, se fosse vivo, veria aqui um belo exemplo de "desejo mimético", a sua definição culta de inveja. 
"Ai ela está no poder? Pois eu vou corrê-la de lá, para ficar com o lugar, porque sou melhor". Falta agora saber se os meios disponíveis correspondem ao desejo. Logo veremos. De qualquer maneira, a ideia geral é esta: Numa vasta região em que até há, em Coimbra, uma coligação de 7 formações 7 !!!, liderada pelo PSD, em Tomar temos um renhido combate de almas gémeas, no qual a julgar pelos indícios disponíveis, as ideias profícuas são poucas e os golpes variados.
Se as eleições fossem hoje, é entendimento de Tomar a dianteira que havia duas grandes hipóteses. Ou o PSD ganhava a sua aposta muito arriscada, o que não é nada fácil, ou o PS vencia, mas não convencia, ficando-se pelos três eleitos. É o mais provável, nesta altura.
Neste caso, os laranjas bem podiam chorar em vão a oportunidade perdida, ao verificarem que, somando os seus votos aos da coligação CDS-MPT-PPM, teriam vencido os socialistas.
Se tal vier a ser o caso, vai ser uma situação digna da maior atenção: 3 eleitos PS (presidente e 2 vereadores), 2 eleitos PSD, 1 eleito Chega,  1 eleito CDS-MPT-PPM. A três contra quatro, a oferta PS terá de ser bem generosa, para conseguir a quarta perna da cadeira do poder, sem a qual as quedas poderão ser frequentes. Quem vai vender-se? Em 2013 foi a CDU, e os resultados alcançados não estiveram à altura. Na eleição seguinte, perderam o vereador. Alguns eleitores tomarenses "de esquerda" terão adoptado o velho princípio "Roma não paga a traidores".
Além destas candidaturas, em igualdade de circunstâncias, porém desde sempre muito afastados pelos votos, temos a CDU e o BE, manifestamente incapazes de surpreender de uma forma ou de outra. Em ambos os casos, é o mesmo produto na mesma embalagem, pelo que seria uma agradável surpresa se ambos, ou pelo menos um deles, conseguisse eleger um vereador. Conhecendo minimamente o eleitorado tomarense, e falando com franqueza total, não se vislumbra nenhuma razão forte para tanto. Terão voz no parlamento municipal e já será bem bom, dadas as circunstâncias. Os tempos não estão para grandes mudanças. Se é que alguma vez estiveram.
Alguns leitores mais atentos vão insurgir-se, ao verificarem que estou a ser injusto, em termos positivos, com o CDS, geralmente no mesmo grupo do BE e da CDU,  na votação final. É verdade. Têm razão. Mas enquanto bloquistas e CDU se mantêm iguais a si próprios, o CDS desta vez ousa surpreender muito favoravelmente. Conseguiram um candidato com estatura e projecto, arranjaram uma coligação que não envergonha e mostram grande capacidade de diálogo. Não é pouca coisa. Por isso lhe foi atribuído um eventual vereador, tal como ao estreante Chega, que todavia parece estar em perda de fôlego.
Resta uma aventura juvenil chamada VOLT, que caso consiga chegar aos mil votos, pode cantar vitória. Em terra de cegos quem tem um olho é rei, mas quem tem dois pode ser escorraçado.
Como nota final, os socialistas terão todo o interesse em mudar de lentes quanto antes, pois o seu ar triunfal mostra que estão a ver mal o filme. Ao contrário de 2013, em que venceram à tangente, num combate a 3; ou de 2017, em que usaram um estratagema para vencer mais folgadamente num combate a 2, desta vez tudo indica que a refrega vai ser bem diferente. Muito desgastados pelos sucessivos erros entretanto cometidos, não se vê onde possam  ir buscar votos para compensar os que vão fugir para o Chega, para o Volt, ou para a coligação CDS-MPT-PPM. Exactamente o mesmo problema do PSD, e pelas mesmas razões. Afinal são almas gémeas.
Boa sorte a todos, e que ganhem os melhores, pois todos teremos a ganhar. E o concelho bem precisa. Não é só a cidade.

3 comentários:

  1. O PSD ao não ver isto demonstra para todo o eleitorado falta de leitura política, alguma sobranceria ("eles julgam-se a última coca-cola no deserto, não precisam de ajuda de ninguém, é só cagança!") ou mesmo ambição desmesurada ("eles querem é o tacho só para eles, são iguais aos que lá estão!")

    Para além disso não existe só a questão contabilística dos votos e lugares elegíveis.. trabalhar com uma equipa mais heterogénea permite que se esbatam falhas mais evidentes (na comunicação, por ex.) e se evidenciem os pontos fortes, e surjam ideias novas etc etc

    Ao existir um alinhamento, as forças no centro-direita demonstrariam perante o eleitorado um comprometimento de trabalhar em conjunto com outras forças, em prol do município..
    Senão, fica demonstrado que todos pretendem manter o status quo, as suas quintinhas e caciques, e então o eleitor dirá "são todos iguais, vamos deixar lá estes que até fazem umas festas e concertos se votarmos neles.. )))

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  2. Eu estou a achar o PS muito forte. As obras no Flecheiro e Várzea grande caíram bem, o povo diz que aquilo como estava (terra batida) não estava bem. E acho a Anabela Freitas muito mais comunicadora e sedutora do que Lurdes Ferromau, que me desiludiu bastante na entrevista á Hertz. Foi um erro de casting. O candidato e o programa CHEGA têm sido uma grande desilusão. A pàgina do CHEGA Tomar do Facebook limita-se a copiar o CHEGA nacional e a mandar umas larachas!!!! Muito fraquinhos. O candidato CDS não tem hipótese. Tomar não vota CDS. Vamos ver como correm os debates mas prevejo uma vitória gorda do PS, infelizmente... O candidato da oposição que se preparar bem, que pesquisa a net, tem grande chance de brilhar e colocar problemas a Anabela Freitas, que ao longo dos últimos 8 anos cometeu muitas gafes, parece-me manifestamente mal preparada para lidar com assuntos de gestão e investimento. Mas o povo de Tomar vota com o coração e não com a razão e o PS é favorito, como eu disse.

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    1. Esta sua análise está muito bem pensada e melhor redigida. Até parece coisa de profissional pago para estas coisas.
      Está a achar o PS muito forte? Em que se baseia para isso? Com achismos não vamos longe.
      As obras da Várzea e do Flecheiro cairam bem? De certeza que ouviu isso à mesa do pessoal que come da gamela e está naturalmente interessado em continuar. Só esses é que, com a usual hipocrisia, dão a entender que assim é.
      Concordo no essencial com a sua opinião sobre a lista PSD e sobre o Chega, mas discordo quanto ao CDS. A sua afirmação "Tomar não vota CDS" carece de fundamento. Pode dizer-se que até agora Tomar não tem votado CDS. O resto é pura especulação. Quem lhe garante que desta vez, com um bom candidato, um programa adequado e uma campanha eleitoral robusta, as coisas não vão mudar?
      Prevê uma "vitória gorda do PS"? Não sei em que se baseia. Veja bem. Em 2013, numa luta a 3, ainda com os IpT, o PS ganhou por uma diferença inferior a 300 votos, num universo de 30 mil. Em 2017, apesar da boa oralidade, dos malabarismos de Anabela Freitas e do acordo pré-eutanásia com a formação de Pedro Marques, que se partiu ao meio, os socialistas penas conseguiram mais um milhar de votos em relação ao PSD. Desta vez, com sete candidaturas, entre as quais duas estreantes, e com um CDS bem artilhado, onde poderá o PS ir buscar votos, para além da gamela e do pessoal sempre em festa, que vota mais BE e CDU?
      Vitória gorda do PS? Se vencerem com 3 eleitos já se poderão dar por muito felizes. E agradecer ao PSD, que tudo vem fazendo para que assim seja. Numa outra terra, da cintura de Lisboa ou do Porto, por exemplo, eram corridos à paulada. Tanto uns como outros.

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