A autarquia também não é responsável
pela fuga da população?
Vimos na matéria anterior que os portugueses mais próximos da raia estão a fixar-se do outra lado da fronteira, em Espanha, onde as condições de vida são melhores, pelo menos no que concerne a custos, continuando a trabalhar em Portugal. Mesmo longe da fronteira (a mais próxima fica a cerca de 100 kms), nos últimos dez anos 10,4 % dos tomarenses resolveram fazer a mala e iniciar outro rumo.
Não se trata de uma crítica, ou de uma posição ideológica. É um facto. São dados oficiais do INE, que é um organismo governamental. Como explicar então essa debandada, que a continuar transformará Tomar numa cidade-fantasma dentro de uma ou duas décadas?
O primeiro e principal indício apontando para a responsabilidade do poder local é a atitude geral dos respeitáveis autarcas. Caiu-lhes em cima este balde de água gelada, e logo em ano eleitoral. Só pode ser uma vil manobra de quem nós sabemos, devem pensar. Donde um silêncio a respeito que até dói.
Deixando essa paranoia difusa, examinemos serenamente o caso de Tomar. É verdade que a fuga da população é geral, mas mais acentuada numas terras que noutras. No caso do Médio Tejo, a cidade que perdeu mais população nos últimos dez anos foi Abrantes, logo seguida de Tomar. Mas entre 2009 e 2013, primeiro mandato da actual maioria, a cidade templária perdeu percentualmente mais eleitores que qualquer outra da CIM (2,496 em Tomar, contra 1.107 em Ourém, 967 em Torres Novas e 1.812 em Abrantes) Porquê?
Ninguém sabe. Pode haver palpites mas apenas isso. E não se sabendo a ou as origens da doença, não é possível combatê-la com sucesso. Qualquer médico dirá isso mesmo: Sem adequado diagnóstico, não pode haver boa terapêutica. Só por mero acaso.
Com o seu usual desembaraço, a nossa presidente faz o que pode para ir sacudindo a água da gabardine, naturalmente com pouco ou nenhum sucesso. Porque afinal a questão é clara: Se a Câmara também não é responsável pela hemorragia demográfica, então quem é? O Gualdim Pais? A administração municipal serve afinal para quê? Só para garantir empregos?
Seguindo aquilo que a senhora presidente vai dizendo à informação local, ouviu-se falar a dada altura num investimento considerável da autarquia para construção de casas de renda acessível, por se entender que a população jovem se vai embora por falta de alojamento a preço acessível? Será mesmo? Não haverá outras causas? O custo de vida em Tomar, quando comparado com a região não será uma delas? A pesada burocracia municipal não será outra?
Tudo perguntas pertinentes, porque das respectivas respostas depende o futuro da cidade e do concelho.
Infelizmente, como bem sabemos, a actual maioria sente-se ofendida quando questionada, recusando responder ou debater, por uma questão de arrogância, ao considerar que estão "no rumo certo". Pois continuem e boa sorte! Mas depois não se admirem com os resultados, ou com o facto dos tomarenses votarem com os pés, pondo-se a caminho, rumo a urbes com futuro menos sombrio.
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