sábado, 24 de julho de 2021

 


Turismo/política local

Até a protecção dos morcegos 
pode ser um argumento contra.

Tomar a dianteira já antes aqui falou do parque temático do Puy-du-fou, em França, e do seu desdobramento em Toledo, Espanha, para mostrar a diferença entre a Festa Templária e outras abordagens históricas mais baratas para os contribuintes. Isto porque, sendo uma evidência, ainda assim não fica mal relembrar que o dinheiro não é elástico, nem a União Europeia é um manancial inesgotável. As somas gastas num lado acabam sempre por fazer falta noutros.
Apareceu agora, no Le Monde, mais uma expansão do Puy-du-fou, desta vez no sul de França, em La Barben, uma comuna com 900 habitantes. Caso consiga ler francês, pode conferir aqui:
https://www.lemonde.fr/societe/article/2021/07/23/vent-de-fronde-contre-le-puy-du-fou-provencal_6089302_3224.html
Nas suas grandes linhas, o caso é simples. Um cidadão de 35 anos, católico tradicionalista, Vianney Audemard d'Alançon, cujo nome tresanda a velha Provença de muitos séculos, comprou o castelo de La Barben e respectiva cerca, para aí instalar um parque temático, tipo Puy-du-fou, e realizar recriações históricas. É o Rocher Mistral.
Após um investimento de 37 milhões de euros (7 milhões de subsídios e 30 de capitais próprios), o empreendimento já está a funcionar, com um parque de estacionamento de 500 lugares, amplas instalações sanitárias, bilhética electrónica, 200 empregos permanentes e recebendo já cerca de mil visitantes/dia, apesar do covid19.
Tudo bem, no melhor dos mundos possíveis? Nem por isso. Apesar de situado em França, o Rocher Mistral fica no sul, próximo da costa do Mediterrâneo, e os povos do sul, como é sabido...
Apesar do novo maná, cidadãos da zona já requereram a limitação das actividades do parque temático. Alegam excesso de ruído e de trânsito, acusando o proprietário de não ter todas as autorizações indispensáveis.
Juntou-se-lhes uma agremiação ecologista, que acusa a empresa proprietária do parque de "perturbação intencional de espécies protegidas". Referem-se a uma colónia de morcegos, que antes habitava nas caves do castelo...
Que relação tem tudo isto com Tomar? A diferença de modelos organizativos  numa mesma matéria. A recriação histórica e o folclore local, como produtos turísticos. Em França trata-se de investimento privado, que proporciona confortáveis valores acrescentados e cria emprego. Em Tomar, pelo contrário, é um sorvedouro de fundos públicos e apenas cria alguns empregos de funcionários públicos. Falo designadamente da Festa dos Tabuleiros e da Festa Templária. 
Têm retorno? Promovem Tomar? É o que se diz, mas ninguém até agora conseguiu demonstrar. Certo, mesmo certo, é que os tabuleiros de 2019 custaram 600 mil euros ao orçamento municipal, e cada festa templária custa um pouco mais de 100 mil euros. Este ano foi menos, porque houve necessidade de reduzir, devido à pandemia. De qualquer maneira, tanto o Puy-du-fou como La Barden também têm retorno e promovem as a suas regiões respectivas, sem necessidade de recorrer sempre aos fundos públicos. Tudo depende do modelo de gestão adoptado.
Convinha que os eleitores tomarenses ainda capazes de meditar um pouco, pensassem nestes casos antes de fazerem a cruzinha e entregar o papel, em Setembro próximo. A mentalidade sempre em festa e à borla, é muito bonito e agradável, permite comprar votos, mas tem custos demasiado elevados.
Os franceses do Puy-du-fou e da La Barden não têm nada a ver com o assunto, como é óbvio. Servem apenas de ilustração. Ainda que, estas coincidências não se inventam, o presidente da câmara de La Barden, que desmente ser contra o parque temático, seja um respeitável cidadão francês cujo nome não engana ninguém no vale nabantino: Franck dos Santos, em português Francisco dos Santos.

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