sexta-feira, 30 de julho de 2021

 

Política local/População

Censo a exigir bom senso
E um desígnio à altura de Tomar

Foi um balde de água fria. Ou, melhor dito, seria um balde de água fria para os eleitos locais, caso fossem honestos para consigo próprios. Infelizmente, todos sabemos que não é o caso. Regra geral, mentem aos tomarenses e iludem-se a si próprios. Alguns sem disso sequer se darem conta.

É uso dizer-se, e todos os candidatos o repetem: -Tomar é uma terra cheia de recursos. Têm razão, não há porém cinco, que fazem muita falta: massa cinzenta, apego ao trabalho, organização, tolerância e capacidade de diálogo.
Voltando ao início, foi  um balde de água fria a publicação dos resultados do censo da população portuguesa, uma operação técnica, neutra do ponto de vista político. Ninguém de boa fé poderá dizer que os resultados apurados são de esquerda, de direita ou do centro. Cada um fará a sua leitura.
Que revelam esses resultados, em relação a Tomar e à sua região? Que Abrantes e Tomar são as duas cidades que mais população perderam nos últimos dez anos, 12,6% e 10,4%, respectivamente.  Mais que Ourém, Torres Novas ou Santarém. Perde assim qualquer credibilidade aquele argumento, difundido pela actual maioria PS, segundo o qual a fuga da população é provocada pela interioridade. Vai-se a ver, não é tal.. A sangria é geral, embora mais acentuada no interior. Mas também mais grave numas localidades do que noutras. Porquê? Por agora, ninguém tem respostas convincentes.
Deixando de lado aquela argumentação indigente, tipo chico esperto, "Ourém é porque tem Fátima, Entroncamento é porque tem os comboios, Caldas da Rainha é porque fica próximo da costa, Elvas é porque está na fronteira", e assim sucessivamente, qual ou quais as causas do problema migratório?
Não se trata, naturalmente, de procurar culpados, porque esses somos todos os portugueses, sobretudo o governo e os autarcas. Por exemplo aquele slogan eleitoral No caminho certo, do PS tomarense, acabaria por ser cómico se não fosse trágico, revelando uma enorme inconsciência, ao indicar que o caminho certo para os tomarenses  tem sido a emigração.
Ao fazer comparações, os próprios técnicos do INE apontam caminhos. Segundo eles, a actual redução da população residente só tem paralelo nos anos 60-70 do século passado. Que ocorreu então? Dois fenómenos de massa. A emigração em larga escala, que chegou a ultrapassar as 100 mil pessoas/ano, e a guerra colonial.
Não havendo agora guerra colonial, a emigração tem-se mantido e até acentuado, parcialmente camuflada pela liberdade de circulação e residência na União Europeia, o que dificulta a recolha de dados estatísticos.. 
Uma situação bastante significativa é a comparação entre Ourém e Tomar. Nos anos 60 os oureenses emigraram muito mais que os tomarenses, sobretudo para França. Enquanto em Ourém o marasmo era então evidente (ainda nem sequer tinham ensino secundário), Tomar era uma próspera cidade de guarnição, com regimento, hospital militar e quartel general, bem como várias fábricas.
Sessenta anos passados, Ourém já tem mais 10 mil habitantes que Tomar, perde menos população (apenas 3,0% contra 10,4%) e mostra dinamismo económico por todo o lado, enquanto em Tomar a situação é a que está à vista de quem tenha olhos para ver.
Porque não temos trunfos? 
Não!  Apenas porque, até agora, ainda nunca elegemos quem os saiba jogar. E as perspectivas para Setembro  são pouco animadoras, a julgar pelos elementos já conhecidos.
Tourism or not tourism, that is the question! Mas com obras. Com um desígnio à altura de Tomar. De conversa balofa, os tomarenses estão fartos.

1 comentário:

  1. Os 3 ultimos paragrafos do escrito são bastantes, e apresentam de forma clara e simples, o dilema de Tomar.
    Há crise, porque tem havido incapacidade dos sucessivos eleitos para administrar a cidade em valorizar o que temos para valorizar. Os trunfos.
    Nunca elegemos, porque nunca houve alguem capaz para eleger. E falar em "perspetivas pouco animadoras", é simpatico...
    E poucas duvidas há que é pelo caminho do Turismo que poderiamos caminhar. Assim acabasse a conversa balofa

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