Pandemia/Política local
TUDO O QUE É DEMAIS PARECE MAL
Sempre foi um problema meu, que me leva a sentir-me melhor quando estou longe da terra onde nasci. Tenho sempre dúvidas, enquanto os meus queridos conterrâneos parece só terem certezas. Defeito meu, portanto.
Agora sou confrontado com um problema médico, para o qual não estou minimamente capacitado em termos profissionais. Mas que nem por isso me alivia as usuais dúvidas. Segundo a Rádio Hertz, as autoridades de saúde de Tomar determinaram 44 altas de uma assentada, num universo de quase cem pacientes. Ou seja, um em cada dois cidadãos com covid19 deixou de estar doente e passou a curado, assim do pé para a mão:
https://radiohertz.pt/tomar-coronavirus-autoridades-de-saude-deram-alta-a-44-pessoas-ha-agora-56-contagios-ativos-e-1714-casos-por-100-mil-habitantes/
Pode bem ser a coisa mais natural deste mundo, estou pronto a admitir, se me explicarem com paciência. Mas a priori não me parece. Pelo contrário. Vejo uma enormidade. Que pode ter várias explicações plausíveis:
1 - Boa parte dos pacientes eram afinal falsos infectados;
2 - As 44 altas referem-se aos últimos dez dias, mas devido a desleixo, ou por razões de oportunidade, só agora foram comunicadas à informação local;
3 - Trata-se em boa parte da chamada "alta para animar a malta", como acontece com alguma frequência. Dá-se alta ao doente e manda-se para casa, onde acaba por falecer dias depois;
4 - Há festarolas musicais previstas para o Mouchão nos fins de semana, e com tantos infectados, era bem capaz de ir lá menos gente, de forma que estas 44 altas foram mesmo bastante oportunas em termos de política local. Sobretudo tendo em conta que a nossa querida presidente nunca dá o braço a torcer. Nem que o covid tussa por toda a cidade.
Estou ciente que na cosmopolita e tolerante atmosfera tomarense (em sentido irónico) o culpado vou ser eu, como quase sempre, por ter "levantado a lebre", e não quem providenciou as 44 oportunas altas médicas num dia. Pois seja. Aqui fica a minha cabeça no cepo e três conhecidas sentenças populares, de aceitação geral, todas muito a propósito.
A primeira é o título desta crónica: "Tudo o que é demais parece mal", e 44 altas médicas de uma assentada, num universo inferior a 100 alegados doentes, só em Tomar é que poderá parecer algo normal.
A segunda vem já do tempo do império romano, quando Portugal ainda só viria a existir no milénio seguinte: "À mulher de César não lhe basta ser séria. Tem de parecê-lo." Mesmo se depois insistirem em culpar quem critica.
A terceira, enfim, é do Sherlock Holmes: "Para achar o criminoso deve começar-se por determinar quem beneficia com o crime."
ADENDA ÀS 18HOO (hora de Lisboa) de 28/07/2021
No caminho certo
Informam as fontes oficiais do costume que há a registar 10 novas infecções em Tomar, o que eleva o total de casos activos para 66. Ourém, que tem mais 10 mil habitantes, regista neste momento 68 doentes com covid 19:
https://radiohertz.pt/tomar-coronavirus-foram-detetadas-mais-infecoes-no-concelho-e-ha-47-pessoas-em-vigilancia-ativa/
Com mais uns eventos no Mouchão e graças a umas altas oportunas, para ajudar a crer que vai tudo bem, não tarda Tomar ocupará o primeiro lugar do ranking regional, posição que ainda há poucos dias pertencia a Constância. É como reza o lema de campanha da srª presidente-candidata. Estamos no caminho certo. Infelizmente, acrescento eu.
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