Política local/ cultura/ turismo
CULTURA À CUSTA DOS CONTRIBUINTES ?
Isso era nos países comunistas do leste europeu, que implodiram logo depois da queda do muro de Berlim. Tinham-se preparado durante anos, no seio do Pacto de Varsóvia, para repelir uma invasão da NATO, e afinal caíram sem qualquer intervenção ocidental. Porque terá sido?
Passando do espaço europeu ao quintal tomarense, parece que causou alguns engulhos o texto anterior. Falar de festas e outros eventos não só rentáveis sem subsídio camarário, ou governamental, como proporcionando excedentes, é uma verdadeira heresia em Tomar. Os usuais beneficiados, os tais da gamela, reagem como os alcoólicos quando lhes falam de abandonar a pinga se não querem morrer de cirrose.
Mas esse é o novo caminho, mesmo por essa Europa fora. Ainda ontem no Le Monde a nova estrela da economia política, Thomas Pikety, director de estudos na École d'Économie de Paris, defendia mais intervenção do Estado na economia, designadamente comprando ou fundando empresas, como na China comunista, mas democráticas, rentáveis e assegurando os direitos laborais, ao contrário de Pequim. Para os menos versados nestas coisas da economia, o cinema, o teatro e a música constituem bons exemplos.
Já terão decerto constatado, tanto no cinema como na tv, que quando passa cinema, teatro ou música, de produção europeia, aparece sempre a abrir uma longa ficha técnica com um rol de patrocinadores nacionais, regionais e locais, todos provenientes dos orçamentos de estado respectivos.
Inversamente, quando se trata de produções americanas, por exemplo, não consta qualquer indicação de patrocínio. Apenas o nome dos produtores, que arcaram com os custos e recolhem mais tarde os lucros, quando os conseguem.
As perguntas a fazer são estas: Apesar das generosas ajudas públicas europeias, que vão da própria União até aos municípios, quem é que domina de facto o mercado mundial da cultura, nas áreas do cinema, do teatro e da música? A Europa ou os Estados Unidos? Qual é nesta altura a cultura dominante?
Um outro aspecto é o da emigração. Apesar de os Estados Unidos não subsidiarem a cultura, não terem fundo de desemprego, nem férias pagas, nem 13º mês, nem serviço nacional de saúde, nem universidades estatais com propinas módicas, são os latino-americanos que tentam entrar clandestinamente nos USA, e não os norte-americanos que procuram abandonar o país.
Ao contrário do muro de Berlim, erguido para impedir a fuga dos cidadãos da defunta RDA para a RFA, o muro entre os USA e o México procura evitar a entrada clandestina de mexicanos e outros latino-americanos. Se dúvidas persistem, na outra fronteira, dos USA com o Canadá, também de colonização anglo-saxónica, nunca houve nem há qualquer muro ou projecto para a sua construção. Talvez vá sendo tempo de retirar os óculos ideológicos e passar a ver as coisas como elas são realmente. Agora que o Trump se foi, até ficou mais fácil.
A concluir: Festas com força em Tomar? Eventos com força? Cultura com força? Turismo com força? Pois vamos a isso. Mas de modo a que passe a dar lucro, a criar valor acrescentado A agricultura é que já foi entre nós a arte de empobrecer alegremente, conforme se dizia antes da fartura europeia.
Aos que, depois de lerem o que antecede, vão acusar-me de virar à direita, peço licença para lembrar o que disse, em pleno Comité Central, o primeiro ministro chinês Deng Xiao Ping, entretanto já falecido: "Pouco importa a cor do gato, desde que cace ratos."
Em Tomar, há cada vez mais gatos para todos os gostos, que infelizmente só sabem caçar subsídios camarários. Vendem-se é o que é. E depois ainda vêm com lições de ortodoxia político-partidária.
Subsídio não é lucro. É dádiva-despesa que tem de ser paga pelos contribuintes. Por conseguinte, não faz sentido subsidiar actividades que não são essenciais. A não ser para a compra de votos.
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