Política local/Turismo/Autárquicas 2021
ALGO ESTÁ A MUDAR ENTRE OS TOMARENSES E O TURISMO
É verdade. Após décadas de travessia quase solitária, quem escreve estas linhas começa por manifestar a sua satisfação perante uma nova realidade. Em pouco tempo, dois outros cidadãos resolveram escrever sobre turismo na informação local. O mês passado foi o colega e amigo José Rogério. Agora surge Luís Francisco. Aleluia!
Doutor em gestão, docente no Politécnico e candidato ao executivo, na lista do PSD, Luís Francisco é uma novidade de peso no campo da escrita informativa sobre turismo. Trata-se até, se bem me lembro, da primeira vez que algum candidato resolve publicar a sua opinião sobre matéria tão importante para o futuro de Tomar, durante a pré-campanha eleitoral.
Académico de topo, Luis Francisco deve estar habituado ao confronto de ideias com os seus pares, como é usual em todas as áreas do saber, por esse vasto mundo fora. Não deverá portanto estranhar as considerações seguintes. Embora nunca tenha ensinado no superior, este vosso escriba foi durante muitos anos profissional de turismo, e obteve o grau de doutor em Economia do Turismo pela Universidade de Paris VIII.
Num português límpido e muito bem articulado, "Turismo em Tomar sem as cerejas no topo do bolo", (publicado na página 18 do Cidade de Tomar de 9/7/2021, e na página 11 d'O Templário de 8/72021), começa por usar uma adequada alegoria, através da qual procura inculcar a ideia de futuramente tratar dos secundários deixando para o fim as "cerejas no topo do bolo", que é como quem diz o Convento, os Tabuleiros e a ideia Templários.
Trata-se de metodologia nova, creio que baseada no pressuposto de que até aqui se tem feito o contrário. Cuidado do Convento, dos Tabuleiros e da Cidade templária, deixando o resto ao Deus dará. É contudo uma falsa justificação, que torna pouco aceitável a metodologia do pasteleiro.
Desde logo porque, a bem dizer, até agora em Tomar não se tratou de forma adequada, nem das cerejas, nem do bolo. Prova disso é que até houve uma Comissão Regional de Turismo, que durante longos anos pouco ou nada fez, e por isso acabou sendo extinta. Do turismo municipal, é melhor não falar por agora.
É a primeira vez que uma lista para o executivo tomarense integra alguém que escreve sobre turismo, assim demonstrando ter ideias originais para o sector. Até agora, ou não havia ninguém a tratar de articular o turismo local, ou a autarquia recorria ao exterior, solicitando ajuda graciosa.
Anabela Freitas inaugurou uma nova prática, o ajuste directo como solução para as lacunas locais. O problema reside no facto de tais ajustes directos terem rendido bom dinheiro aos contratados (uma média superior a 50 mil euros por acordo, incluindo IVA), sem porém fornecerem aquilo a que se comprometeram com um mínimo de qualidade. Quando forneceram algo, o que nem sempre aconteceu.
Nestas condições, a situação do turismo local só podia agravar-se e foi o que aconteceu e está a acontecer. Temos assim, exactamente na área das "cerejas no topo do bolo", um amontoado de dificuldades, todas na mesma área -gritante falta de infra-estruturas de acolhimento e evidente carência de conhecimentos básicos para as identificar e apresentar soluções.
No entendimento de quem isto escreve, seria portanto um erro refugiar-se no turismo familiar, artesanal, deixando ao abandono, como até agora, o turismo industrial ou organizado, para o qual a cidade não dispõe de condições mínimas, em termos de acolhimento.
Ao contrário do exposto por Luís Francisco, os visitantes que demandam o Convento de Cristo, são turistas e excursionistas em turismo industrial organizado, atraídos pela nossa única grande âncora local, que acabam por ser forçados a rumar a outras paragens logo a seguir, dada a manifesta carência de condições básicas (estacionamento, campismo, sanitários, sinalização, informação, animação) para continuar em Tomar.
Haverá desta vez coragem para ver e enfrentar a realidade, tal como ela é de verdade? Após doze tentativas falhadas, de outros tantos executivos municipais, continuo com dúvidas. Com muitas dúvidas. Mas a esperança é a última coisa a morrer.
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