sábado, 11 de fevereiro de 2023

Vida local -população

Alojamentos para quem?

Li não me lembro onde, que há milhões de  euros disponíveis para a construção de apartamentos a custos controlados no concelho. Fiquei a pensar se haverá também projectos à altura, em quantidade e em qualidade, acabando por chegar à pergunta inevitável e algo angustiante: alojamentos para quem?
Aqueles que têm o hábito de percorrer os recantos da cidade antiga, a que pomposamente chamamos centro histórico, já repararam certamente na quantidade de prédios devolutos, em certos sectores literalmente a cair aos bocados. Haverá alguma tabela estatística, com a quantidade de prédios devolutos e respectivas características, na cidade e no concelho? Convinha que houvesse, pois a minha ideia é que não há falta de alojamento em Tomar, mas sim falta de alojamento adequado, em termos de custo mensal, o que é bem diferente e supõe outra análise.
Digo isto porque na Av. Torres Pinheiro, por exemplo,  há uma pensão com 15 quartos, encerrada há mais de 20 anos, sem qualquer reparo de quem quer que seja. O que não surpreende sequer, porquanto não estou a ver que possa haver falta de alojamentos numa cidade cuja população tem vindo a  diminuir de forma acentuada. 37.310 eleitores inscritos em 2013, quando começou a actual gerência camarária, 33.705 em 2022. Porquê?
Éramos 40.905 eleitores inscritos em 1997, somos em 2022 apenas 33.705, mais ou menos o mesmo total de 1979 (33.657 eleitores inscritos). Porquê? Que nos tem acontecido? Quando se colocam estas questões, e outras do mesmo tipo, os entendidos locais, com destaque para os da autarquia, vêm logo com o argumento da interioridade. E terão alguma razão, mesmo num país com menos de duzentos quilómetros de largura. Manaus, no estado do Amazonas, Brasil, está a três mil quilómetros da costa atlântica e tem mais de dois milhões de habitantes... 
Aparece então outra dúvida. Se realmente o facto de Tomar estar a 50 quilómetros da costa (66  quilómetros pelo IC9), provoca a emigração, como explicar o aumento contínuo de eleitores inscritos, entre 1976 (32.438) e 1997 (40.906)? Durante esses 25 anos e sete mandatos, Tomar não esteve sempre no mesmo sítio onde está hoje? Porque não havia emigração nessa altura? Ou havia, mas vinham outros, para compensar?
Na mesma linha de ideias, entre 2013 e 2022, os 4 quatro grandes municípios da zona, Abrantes, Ourém, Torres Novas e Tomar, perderam eleitores, que o mesmo é dizer população. Tomar tem agora menos 3.607 eleitores em relação a 2013, quando o PS inaugurou esta série de 3 mandatos, Abrantes menos 3.567, Ourém menos 2.553 e Torres Novas menos 1.772. Porquê este retrocesso e estas diferenças, se os quatro concelhos estão geograficamente encostados uns aos outros?
Visivelmente, há que procurar outras causas para a nossa acentuada decadência demográfica. A interioridade poderá ter alguma influência, mas menor. Outras haverá, bem mais importantes. Vamos ter a coragem de estudar o assunto para tentar descobri-las? Ou é mais rentável, designadamente em termos eleitorais, contentar-se com uns palpites, sem base séria?

             Legislativas 2022 (mai.gov.pt)


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