domingo, 5 de fevereiro de 2023

 

 Parque de campismo de Paris, 2, Allée du Bord de l'Eau, 75016 Paris. Estacionamento grátis, wifi grátis, internet grátis, natação, pesca de rio, área de piquenique. No segundo plano, o rio Sena. Ao fundo,  na linha do horizonte, do lado esquerdo, quase imperceptível, a silhueta da Torre Eiffel.

Turismo

Campismo -o novo negócio 
dos fundos de investimento

Tourisme : les fonds d’investissement à l’assaut des campings (lemonde.fr)

Embora a nove horas de avião de Paris, continuo a ler todas as manhãs o Le Monde, o meu oxigénio europeu, que me ajuda a respirar e a escrever melhor. Com outro fôlego. Porque, sejamos francos, Portugal é um país maravilhoso e Tomar  a minha paixão como cidade, mas somos a periferia da periferia da União europeia. E isso nota-se, quando se viveu e vive longe do vale nabantino, mantendo a capacidade de pensar.
Da leitura de hoje, que levou o seu tempo como sempre, destaque para a reportagem "Os fundos de investimento ao assalto dos parques de campismo". Coisa para 7 minutos, findos os quais fiquei a pensar na triste sorte do outrora reputado Parque de campismo de Tomar, depois encerrado e agora transformado num simples "encosto" para autocaravanas, com condições rudimentares. Nas publicações especializadas tem a classificação de 8,2, quando o campismo rural de Pelinos consegue 8,6. É portanto urgente fazer qualquer coisa, caso se pretenda mesmo melhorar o acolhimento turístico em Tomar.
Do texto do Le Monde retive que há em França 8.239 parques de campismo, com 900 mil lugares, e que o sector tem vindo a progredir, havendo pelo menos um caso conhecido em que um fundo de investimento ofereceu 40 milhões de euros pelo campismo e o dono recusou, enquanto mais para o interior, uma nobre francesa habitando o castelo da família, do século XVI, numa propriedade de 250 hectares, se queixou à jornalista parisiense de estar a ser assediada pelos fundos de investimento, com "ofertas indecentes da ordem dos 3 dígitos, em milhões de euros, bem entendido".
Considerando que a França são 65 milhões de habitantes, e Portugal 10 milhões, fui à procura das estatísticas portuguesas sobre parques de campismo. Uma desilusão. Os dados mais recentes são de 2021, e valem o que valem. Havia nesse ano 235 parques de campismo, contra 247 em 2014, e 250 em 2016. Estranho. O campismo luso é bem capaz de ser como a agricultura no Alentejo. Também não dava nada, até que apareceram os holandeses e os espanhóis a demonstrar o contrário.
Voltando ao campismo, o toal dos parques existentes é mais um dado algo inesperado. Em França, como já vimos acima, 8.239 parques de campismo. Em Portugal, com mais sol mas menos 55 milhões de habitantes em relação à França, há apenas 235.
De acordo com a reportagem do Le Monde, a cobiça dos fundos de investimento justifica-se pelo crescimento do negócio do campismo e caravanismo, que em 2020 ultrapassou em França a taxa de crescimento do turismo de habitação, facultando lucros da ordem dos 20%, apesar de estarem abertos apenas durante metade do ano (Abril a Setembro), devido ao clima.
São dados a ter em conta, para a reinstalação urgente de um parque de campismo com classe em Tomar. Essa história de andar há anos a dizer que é na Machuca, no Açude de Pedra, ou em Cardais, faz pensar no Aeroporto de Lisboa, há 50 anos à procura de sítio para mudar.
Situação curiosa: Paris tem um parque de campismo na margem do Sena, no caríssimo XVI bairro, onde habita "la crème de la crème". (Equivalente da Lapa, em Lisboa, da Foz, no Porto, ou da Alameda, em Tomar). Tomar fechou o campismo que tinha na margem do Nabão, alegando que eram turistas de baixo poder de compra. Eu não digo, que estamos na periferia da periferia da Europa?!


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