quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

Crise demográfica

Será só do interior do país? 

Ou também do interior da cabeça dos eleitos?

https://omirante.pt/opiniao/2023-02-16-O-Cavaleiro-Andante-o-Chico-Matias-o-capataz-da-Chamusca-e-a-Tove-Ditlevson-0c30bafe

Conforme poderá ler usando o link supra, na sua mais recente crónica, JAE, acrónimo de José António Emídio, um cidadão com lastro na região, critica o presidente da Câmara da Chamusca, terra natal de JAE, escrevendo a dado passo que o autarca está mais preocupado com vinco das calças do que com  "...a desertificação do concelho e todos os  males que resultam dessa miséria que afecta o interior do país."
Tratando-se de desertificação, sangria demográfica, fuga da população, ou como queiram chamar-lhe, um problema que também devia apoquentar os tomarenses, sobretudo os eleitos, mas parece-me que nem por isso, resolvi coligir dados idóneos. Para tentar perceber se o problema é causado só pela desertificação do interior, ou também pelo interior da cabeça dos eleitos.
Eis um pequeno quadro, com dados do JN e do MAI:

ELEITORES INSCRITOS

CONCELHOS           1976                 1997                 2022                 Diferença 1997-2022

ABRANTES...........35.886...............41.271..............31.508..........................-9.763

CHAMUSCA.........10.081...............10.519................7.641..........................-2.878

COIMBRA............96.195..............131.123............126.093..........................-5.030

OURÉM...............27.035.................37.291..............40.778.........................+3.487

TOMAR..............32.438.................40.906...............33.705..........................-7.201

T. NOVAS...........26.837.................32.729..............30.774..........................-1.955

A primeira conclusão salta à vista. Nos 25 anos a seguir ao 25 de Abril, entre 1976 e 1997, o tal fenómeno da interioridade não teve qualquer influência na demografia dos municípios considerados. Todos aumentaram a sua população, uns mais do que outros, como é natural.
A segunda conclusão, igualmente óbvia, é que nos anos seguintes, a partir de 1997, todos os concelhos perderam população, com  a notável excepção de Ourém. Em Abrantes foi uma verdadeira hecatombe, com uma perda de 9.763 eleitores entre 1997 e 2022, logo seguida por Tomar, que perdeu 7.201 eleitores. Até Coimbra, uma grande cidade do interior, perdeu população, mas muito menos do que Abrantes ou Tomar, apenas 5.030 eleitores, o que tendo em conta o eleitorado total do concelho, representa menos de 5%, contra mais de 20% em Abrantes e 18% em Tomar.
Perante o êxito absoluto de Ourém, que consegue ir aumentando a população, e o êxito relativo de Coimbra, que consegue reduzir os estragos, os entendidos do costume vão dizer que Coimbra é por causa da Universidade e Ourém por causa de Fátima. Os lugares comuns do costume.
A verdade porém parece ser outra. Coimbra e Ourém conseguem ir avançando mesmo em tempo de crise, por saberem aproveitar as potencialidades dos seus recursos. No caso de Ourém, não só por terem Fátima, mas sobretudo por saberem aproveitar as potencialidades daí advenientes.
Na outra vertente, a dos mais atingidos, no caso de Tomar, se durante 25 anos após Abril a população foi sempre crescendo, porque razão ou razões tem sido sempre a diminuir desde então? Porque não temos Fátima? Ou será antes porque não sabemos aproveitar devidamente o Convento, o Castelo, o centro histórico, o Nabão, a Mata e  os Tabuleiros?
A dar esmolas e à espera de subsídios de Bruxelas, não vamos longe, como está à vista. Deixem-se de desculpas mal alinhavadas.

1 comentário:

  1. Já é sobejamente conhecido o desaguisado entre o Mirante e o presidente, que ao contrário de outros não entra com nenhum pro jornal.

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