domingo, 12 de fevereiro de 2023


Desenvolvimento económico - Turismo

Sopas, turismo e caturras

 https://tomarnarede.pt/destaque/quatro-festivais-de-sopa-no-mesmo-dia/

Noticiou o Tomar na rede que amanhã, Domingo, haverá quatro festivais de sopa, num raio de 30 quilómetros. Dois deles na mesma estrada nacional. Um em Carregueiros, outro em Alburitel. Só falta haver um terceiro em Vale dos Ovos, ex-Estação de Fátima, para ser tudo pegado. Nada de extraordinário, ainda assim, a não ser a proliferação, como de resto assinala a referida notícia.
Aproveitando a ocasião, um comentador crónico e caturra foi algo agreste. Apostem no turismo, escreveu ele, e depois queixem-se que não há turistas para tanto festival. Não fora a insistência e a boa qualidade da escrita, bem como alguns outros bons comentários da mesma autoria, e nem sequer escreveria uma linha a propósito. Assim, como ainda parece haver alguma esperança de recuperação, aí vai. Com o único intuito de convencer sem agredir.
Turismo é a versão portuguesa da palavra francesa tourisme, a qual deriva de tour = volta. (Mas cuidado. Em português "vamos dar uma volta" pode não ser sinónimo de "vamos fazer turismo.")
 O seu uso generalizou-se  a partir do século XIX, quando os ricos herdeiros ingleses passaram a efectuar obrigatoriamente "le grand tour" (visitar a França, a Itália e a Grécia), como parte da sua formação, a que chamaríamos agora educação para a vida. Com o aparecimento das férias pagas em 1936, em França, no governo da Frente popular, coincidindo com a expansão dos transportes colectivos, o privilégio dos ricos ingleses transformou-se, pouco a pouco, numa actividade praticamente para todos os trabalhores, e aí começou o turismo moderno.
Hoje em dia um das principais indústrias mundiais, até já está a mudar de designação. De turismo para indústria das viagens ou das deslocações. Prova disso, em França e na Bélgica já não há agências de viagens ou de turismo, mas simplesmente "viagistas". O que mostra bem, no meu entender, que, salvo nalgumas cabeças nas margens nabantinas, não há qualquer relação forte entre turismo e congresso ou festival de sopas. Haverá, quando muito, algumas pessoas dos arredores, e de mais longe, que virão molhar a sopa, mas isso é residual. E chama-se excursionismo, não turismo. Ou, dito de outro modo e impropriamente, turismo dos pobres, de curto raio de acção, que cria muito pouco valor acrescentado.
Suponho até que é nessa vertente que se baseia o nosso cronista caturra, para criticar a opção turística, como modelo de desenvolvimento, sempre que julga ver uma oportunidade para isso, com toda a legitimidade, diga-se. 
Espero ter contribuído com este texto para dissipar a confusão entre bexigas de porco e lampiões eléctricos. Não por uma questão de mera satisfação pessoal. Simplesmente para procurar evitar que os nossos autarcas, que pouco pescam do assunto, encontrem apoio involuntário para a sua inércia na área do turismo, nalguns comentadores menos atentos aos novos tempos.

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