segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023


Administração local

Finalmente perceberam?

Falando das obras na estrada da Serra, para tentar justificar os 70 mil euros a mais para substituir lancis inadequados, a senhora presidente da Câmara parece ter posto finalmente o dedo na ferida. Disse que entre a opção dos arquitetos e a vontade dos cidadãos, escolheu esta, pelo que há alterações a fazer, com os inerentes custos.
A maioria socialista terá finalmente percebido? É o que falta agora apurar, e só o tempo o dirá. Mas as declarações da presidente são um sinal muito positivo. Mostram que, pelo menos no caso das obras da Estrada da Serra, a Câmara percebeu que entre a opinião dos técnicos camarários, ou ao seu serviço, e a vontade maioritária livremente expressa pelos cidadãos, é sempre esta última que deve prevalecer. Os autarcas não são eleitos pelos técnicos camarários e outros, mas pelos eleitores em geral, entre os quais há alguns mais preparados do que outros, designadamente os técnicos, que estão longe de ser todos de primeira água, ao contrário do que costumam alardear Em democracia deve prevalecer sempre o princípio "um cidadão um voto", o que significa que em teoria tanto peso tem a opinião de um técnico superior como a de um qualquer rural quase analfabeto funcional. Sabemos que não é assim que acontece, mas a base de trabalho é essa, que convém nunca esquecer.
Compreende-se a indecisão da maioria socialista, sempre que se trata de escolher entre a opinião pública e a opinião técnica da casa. Normalmente, os autarcas são eleitos pelo conjunto dos cidadãos, entre os quais arquitectos, engenheiros e outros são uma ínfima minoria, e todos deviam preparar o seu voto, mediante a leitura prévia dos programas partidários respetivos.
Infelizmente, em Tomar nunca tal aconteceu. Nunca houve programas políticos estruturados, submetidos ao eleitorado. Apenas umas vagas listagens de intenções e belas promessas. Daí a confusão e a hesitação dos autarcas, na hora da escolha. Tanto os maioritários como os da oposição. Como têm a noção de que não apresentaram qualquer programa sólido e vinculativo, muitas vezes ficam perdidos, sem saber o que escolher, entre a pressão dos técnicos superiores, a pensar nos bolsos, e a opinião pública, que só se manifesta tarde de mais, quando há coragem para isso, porque as inconveniências são excessivas, como acaba de acontecer na Estrada da Serra, mas já ocorreu em obras anteriores. E não podia ser de outro modo, dado que, no microcosmo político tomarense, os técnicos superiores camarários consideram-se uma espécie de deuses, incapazes de ouvirem o clamor da opinião pública. Daí tantas asneiras e tanta arrogância.
Sempre assim foi, mesmo antes do 25 de Abril. A opinião pública não conta. Os técnicos superiores é que sabem. Situação que se agravou com a inesperada e condenável atitude desta maioria socialista. Ao longo deste últimos dez anos, tudo fizeram, comprando, prometendo, bajulando, ameaçando, intimidando, tudo fizeram para calar a crítica, a dita opinião pública. De tal maneira que agora são raros os que ousam falar, regra geral para dizer aquilo que os do poder querem ouvir. Quando assim não acontece, como na Estrada da Serra, há bronca.
Escrevo-o por estar convencido de que é a verdade crua e por isso inconveniente: Em matéria de transparência, tolerância e liberdade de crítica, inesperadamente esta maioria socialista veio a revelar-se a pior Câmara desde o 25 de Abril. É certo que as declarações antes citadas da presidente parecem indiciar uma mudança de rumo. Do rumo certo para o rumo à liberdade crítica e à auscultação da vontade popular. Nunca é tarde para melhorar, mas faltam pouco mais de dois anos para o final do mandato...



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