domingo, 26 de fevereiro de 2023



Economia local - Transporte ferroviário

E um pouco de realismo, não seria melhor? 

Aproveitando a euforia reinante com o PRR e o seu ramal Plano Ferroviário Nacional, reuniu em Tomar um seleto grupo de cidadãos para debater o problema do cominho de ferro e propor algumas iniciativas na região. Segundo constou na informação local, avançaram as seguintes ideias: Aumentar as ligações e reduzir o tempo de viagem no Ramal de Tomar; fazer obras na estação de Santa Cita e instalar uma ligação ferroviária de superfície entre Tomar-Ourém-Fátima-Leiria.
Quanto à primeira, é inteiramente acertada, conquanto incompleta. Impõe-se antes a duplicação da linha até à Lamarosa, condição indispensável para podermos depois ter uma ligação tipo metro expresso regional entre Tomar e Lisboa. Já as duas outras são mais do reino da fantasia.
Estação de Santa Cita é uma designação do passado. Foi desclassificada, por falta de movimento e passou a simples apeadeiro. Deixou portanto de haver pessoal ou venda de bilhetes. Basta um alpendre de cada lado da linha, como nos outros apeadeiros. Pedir o seu restauro não passa afinal de eleitoralismo encapotado.
O mesmo acontece com a proposta da ligação ferroviária Tomar-Ourém-Fátima-Leiria, a nova versão do caminho de ferro Tomar - Nazaré, defendida pelo Dr. Vieira Guimarães, nos anos 20 do século passado, e que nunca saiu do papel. Desta vez, a origem da ideia parece ter sido a anunciada ligação ferroviária entre Fátima e Leiria, que esta sim faz todo o sentido. Trata-se de assegurar transporte de grande capacidade e não poluente entre um santuário que recebe milhões de peregrinos, e a linha de alta velocidade Lisboa-Porto - Vigo-Santiago de Compostela.
Ocorre contudo que Tomar não tem peso específico, com os seus pouco mais de 40 mil habitantes, e está praticamente a igual distância de Lisboa e do Porto (menos de duas horas para cada lado). Se a isto juntarmos a complexidade do terreno, demasiado alcantilado, quem ousará assumir o risco de um percurso ferroviário sem qualquer viabilidade económica?
Basta pensar um bocadinho em termos práticos. Havendo mesmo investimento para a ligação ferroviária Tomar-Leiria, a estação de Tomar seria instalada onde? Na Venda da Gaita? Na Cerrada dos Cães, junto ao castelo? É que os comboios não sobem nem descem. Ou estarão os tomarenses a pensar numa ligação subterrânea, tipo metropolitano?
O próprio TGV Lisboa - Porto não passa afinal de um deslumbramento de rurais com falta de polimento. Segundo li algures, em virtude das leis da física, nomeadamente a força de inércia, um TGV lançado a 400 quilómetros/hora, precisa de 120 quilómetros a travar para se imobilizar. Uma vez que a distância Lisboa-Porto são 300 quilómetros, estando previstas paragens em Leiria, Coimbra e Aveiro, será mesmo um TGV, ou apenas um comboio um pouco mais rápido, com um nome europeu para enganar papalvos?
Pelo que, no que se refere a Tomar, faltam realmente estruturas de acolhimento, mas o comboio para Leiria não parece ser uma delas. Que tal um pouco de realismo? Não seria melhor?


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