segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

 


História local

Ena tanto dinheiro!!!

Tomar completa hoje 179 anos como cidade. Antes era apenas "notável vila de Tomar" No tempo em que isso ainda tinha alguma importância. Hoje em dia, para usar uma frase feita muito conhecida e do agrado local, "vai tudo dar ao mesmo". Há cidades com menos habitantes que algumas aldeias e freguesias com menos eleitores que uma rua urbana de Tomar. Mas somos todos cidadãos, mesmo aqueles nitidamente com cabeça e feitio de aldeões de bota cardada.
Há 179 anos, foi publicado o decreto real de Sua Majestade a Rainha Dª Maria II, elevando Tomar à categoria de cidade. À boa maneira tomarista, os locais ficaram todos inchados, convencidos de que era devido ao nosso incomparável património. Já então os conterrâneos gostavam muito do penacho, a tendência para o exibicionismo, mesmo quando não há grande coisa a exibir.
Mas o decreto real não terá tido como origem o tal património, e sim dois outros factores bem diferentes. Procurava por um lado compensar a perda definitiva, dez anos antes, da Ordem de Cristo, que viu todos os seus bens confiscados e alguns posteriormente vendidos em hasta pública como "bens nacionais". E por outro lado agradar a António Bernardo da Costa Cabral, íntimo da raínha, que entretanto tinha sido nomeado "marquês" e comprado uma parte do Convento de Cristo, bem como  a então Cerca conventual, hoje Mata dos 7 Montes.
Para estar com o seu amigo António Bernardo, a rainha vinha algumas vezes a Tomar e se atardava lá em cima no Convento, conforme se pode ler nas prosas de maldizer da época. Foi numa dessas estadas que Costa Cabral terá aproveitado para "meter uma cunha". Por razões hoje desconhecidas, a soberana não anuiu ao pedido do seu amante, obrigando-o a insistir. -Saiba Vossa Majestado que tem de ser possível, pois eu já me comprometi. -Ai então você vendeu-se, marquês?! lançou D. Maria. -Toda a gente se vende Majestade! retorquiu o nobre. -Toda, marquês?! -Toda! Até Vossa Majestade!!! -Ena tanto dinheiro!!! E a coisa lá se fez de novo, quiçá originando aquela que ainda hoje é uma bela expressão nabantina, cujo significado me abstenho de indicar, por ser evidente no contexto: "Mandar o Bernardo às compras."


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