sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

 


Turismo receptivo

Um trabalho louvável com alguns reparos

https://tomarnarede.pt/destaque/numero-de-turistas-mais-do-que-duplicou-em-tomar/

É um trabalho louvável, a peça do Tomar na rede (ver link supra) sobre turismo local, (uma matéria muito pouco tratada na informação tomarense), todavia com alguns aspectos menos conseguidos. O título, por exemplo,  encantará os camaristas, que logo esfregarão as mãos de contentes, por acharem que vem reforçar a sua partidária visão das coisas, confirmando que estamos "no rumo certo" também na área turística. Será mesmo assim?
"Número de turistas mais que duplicou em Tomar", diz a notícia. Em relação a que ano? A própria notícia acaba por revelar, mais adiante, que, apesar de tal incremento, ainda não se atingiu o nível anterior à pandemia, acrescentando que o melhor ano para o Convento foi em 2019, por causa da Festa dos tabuleiros. 
Segue-se que os números apresentados têm duas origens diferentes, e retratam coisas diversas. Os referentes ao Convento de Cristo devem ser da DGPC, e indicam o total de visitantes que pagaram o seu bilhete de 6 euros à entrada, excluindo as usuais franquias (escolas, domingos de manhã, convidados, antigos combatentes).
Os outros números são dos serviços de turismo da Câmara e carecem de credibilidade, porquanto não correspondem a entradas pagas, o que os torna facilmente alteráveis a favor da visão oficial. Aquelas visitas aos museus da Levada, por exemplo, parecem-me exageradas. De qualquer forma, nos monumentos e outras curiosidades visitáveis sem entradas pagas, quanto mais visitantes, maior é o prejuízo a cobrir pelo orçamento municipal.
Uma frase isolada, anuncia afinal o grande problema de Tomar, enquanto cidade de turismo: "Continua a verificar-se que mais de metade dos visitantes do Convento de Cristo não descem à cidade." Em termos gerais é isto. Uma situação bem estranha, quando se sabe que a esmagadora maioria dos que visitam o Convento tem de passar pela cidade, antes de chegar lá acima.
Sendo verdadeira, a frase não retrata todavia a situação de forma fiel, devido a dois óbices. Antes de mais, porque não tem em conta os milhares de turistas que, na estação alta (Junho, Julho, Agosto, Setembro), conseguem chegar junto ao Convento, mas se vão embora sem visitar, por falta de estacionamento. Depois, também todos aqueles que, paga a entrada, sem guia nem visita guiada, andaram ao acaso dentro de um monumento particularmente complexo, tendo saído sem paciência nenhuma para descer à cidade. Podem atravessar, mas sem vontade alguma de parar...ajudados pela falta de estacionamento na urbe. Não estou a ver nenhum turista a ir estacionar naquele parque junto à CP, para vir até à Sinagoga, à Corredoura ou ao Mouchão...
Há ainda o turismo organizado, dos "tour operators", cujos autocarros, depois de deixarem os turistas junto ao monumento, têm de ir estacionar junto aos Pegões, e que no regresso não podem descer a Estrada do Convento, devido a uma birra dos senhores técnicos superiores, donos de facto da autarquia.
Todas estas maleitas têm remédio, até a da Estrada do Convento. Remédio caro, mas de efeito garantido. Só que agora já é demasiado tarde, com os "clínicos" que estão a serem substituídos, quer queiram quer não, em 2025.
Vamos aguardar os próximos, para então apresentar as indispensáveis soluções, capazes de obstar ao cada vez mais evidente marasmo tomarense, provocado entre outros factores pelo fraco desenvolvimento do turismo receptivo. Faltam estruturas adequadas de acolhimento, e conseguir que eleitores e eleitos percebam finalmente o elementar, em termos de desenvolvimento económico local: o importante não é quantos turistas recebemos, mas quanto é gastaram.



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