Vida local
FIM DA CLAREL E REABERTURA DO CINE-TEATRO
António Rebelo
Que raio de título, pensará quem isto lê. E no entanto...
Foi notícia que a rede de lojas de produtos de higiene CLAREL resolveu encerrar o estabelecimento de Tomar. Situado na Corredoura, outrora a principal rua comercial da urbe, quando o mercado era atrás da câmara e na Praça da República, ocupava instalações que antes foram do BNU - Banco Nacional Ultramarino e, antes ainda, da loja de ferragens União comercial.
Tudo normal portanto. É a dinámica dos negócios a funcionar, diria a redacção do Tomar na rede. Mas lendo a notícia até ao fim, há dois detalhes que merecem destaque. O primeiro informa que encerram, ou já encerraram, só algumas das quase 80 lojas da cadeia CLAREL. O outro acrescenta que certas lojas passam a armazéns abastecedores das lojas que se mantêm.
Temos assim que a loja de Tomar fecha por não ser rentável, apesar de situada na rua nobre da zona comercial tomarense. O que mostra bem o estado da economia local, alimentada quase exclusivamente por pensionistas e funcionários públicos, agora que os turistas não vêm devido à pandemia.
Além desse evidente marasmo recessivo, há outro detalhe de outra índole. Uma vez que a loja de Tomar está geograficamente no centro do país, porque não a aproveitaram para armazém abastecedor das que se vão manter? Se calhar porque a rua onde está só admite trânsito de pesados para cargas e descargas poucas horas por dia, o que, convenhamos, não é nada prático para um armazém abastecedor. Não se pode ter tudo.
Surgiu também esta semana a informação municipal sobre a reabertura do cine-teatro. Sem qualquer relação com o encerramento da CLAREL, essa decisão da vereadora da cultura, naturalmente apoiada pela presidente da edilidade, denuncia o ambiente que se vive na administração municipal. Nem lhes passou decerto pela cabeça meditar um bocadinho no caso da CLAREL, nos seus antecedentes e nas suas consequências. Pensar cansa.
Na mesma linha, vá de reabrir o cine-teatro, sem antes ponderar os prós e os contras. É um caso concreto de evidente negacionismo, semelhante ao de Bolsonaro, por exemplo.
Os espetáculos patrocinados pela cultura municipal no final do verão e no outono do ano passado, deram os resultados conhecidos de todos. Mas nem a srª presidente nem a sua vereadora da cultura assumiram a responsabilidade pelo surto assustador de covid19. Houve até um seu apoiante que, ao arrepio do simples bom senso, veio garantir nas redes sociais serem os cinemas dos locais mais seguros, em matéria de propagação do virus. Até pareceu um vendedor de sars 2 covid19.
Alguns meses depois, estamos praticamente na mesma. Como se nada tivesse acontecido antes. Vamos ter de novo eventos no cine-teatro a partir do próximo dia 19. Enquanto se limitarem ao cinema, não haverá grande perigo para a saúde.
Com as novas maneiras de ver cinema e o fraco nível cinéfilo local, cada exibição apenas vai onerar os cofres municipais, que terão de compensar a empresa exibidora, uma vez que, se houver 10 espectadores por sessão, já será uma multidão. Sei do que falo. Assisti antes da pandemia a várias sessões do cine-clube de Tomar com menos de 10 espectadores. Mas pronto, admito que os votos têm o seu preço. E se os tomarenses gostam assim...
Outra coisa será, e bem mais grave, se e quando resolverem passar para outros espectáculos, nomeadamente os musicais. Aí pode haver uma enchente ou outra, e então, apesar da enorme caixa de ar do cinema, podem surgir lá mais para o verão situações desagradáveis, comparáveis às de 2020, designadamente por causa do ar condicionado.
Aqui fica o aviso, para depois não poderem dizer, respeitando os factos, que ninguém avisou. Mas concordo, nomeadamente para os sucessores de Sócrates, não há verdade nem mentira. É tudo uma questão de narrativa.
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