domingo, 25 de abril de 2021



Equipamento urbano

O MISTÉRIO DAS TROTINETES DESLOCADAS

Acaba de ser noticiado o aparecimento, em diversos locais da cidade, de trotinetes elétricas, que podem ser usadas mediante pagamento de 9 euros por hora. Facto que me parece significativo, a notícia foi difundida pelo único meio informativo local (ainda?) não controlado pela câmara - o Tomar na rede, do amigo José Gaio.
Indo por partes, o surgimento das trotinetes foi repentino, mas a deliberação camarária "com caráter de urgência" data de 20 de Dezembro do ano passado. Para quê a urgência, se a coisa só veio a concretizar-se quatro meses mais tarde?
Ao lado dessa estranheza avulta outra, relacionada com a deliberação camarária e com a necessária transparência. O documento camarário foi aprovado por 5 votos a favor e o voto contra da vereadora Célia Bonet, do PSD.
Uma vez que o executivo camarário é composto por 7 eleitos,  e apenas constam 6 na minuta assinada, que aconteceu ao outro? Ausentou-se? Faltou? Não tomou parte na votação? Nada consta. Os eleitores não têm nada que meter o nariz onde não são chamados?
Ainda quanto à deliberação camarária, a vereadora apresentou uma declaração justificando o seu voto contra, na qual indica os motivos da sua discordância. Em contrapartida, a minuta aprovada, em linguagem administrativa patusca, omite dados essenciais. Linguagem patusca, porque "aprovar o referido termo de cooperação nos seus precisos termos", não é português lavado, nem aceitável numa instituição cujos membros se respeitem, honrando a língua materna.
Acresce que "A Câmara, tudo visto e analisado, deliberou aprovar o referido termo de cooperação."  Muito bem. E quanto ao termo em questão? Onde está? O que dele consta? Onde pode ser consultado? Parece óbvio que, "tudo visto e analisado",  a ninguém ocorreu que convinha anexar cópia do termo de cooperação à minuta da respetiva deliberação. Ou terá sido o jornalista que só copiou um e desprezou o outro?
São apenas mais algumas achegas para demonstrar que a Câmara de Tomar está cheia de vícios (e os agora apontados nem são dos piores, longe disso) e sem eleitos com vontade e arcaboiço para cortar o mal pela raiz, dando início a outra era mais promissora para todos.
Finalmente, a questão das trotinetes propriamente ditas. A não ser que o tal "termo de cooperação", que continua no segredo dos gabinetes, outorgue à empresa algum tipo de compensação monetária, parece-me uma ideia inovadora, arriscada e simpática, infelizmente condenada ao fracasso a breve trecho. Designadamente por falta de geografia adequada e de população com apetência e capacidade monetária para tal meio de transporte e recreio. Falta de geografia adequada, uma vez que a cidade é pequena e muito "em sobe e desce". A única via plana de mais de 5 quilómetros é a estrada nacional 110 - Carvalhos de Figueiredo, uma autêntica armadilha para peões, ciclistas e afins, porque não tem passeios nem bermas. 
Falta de população,  porque há relativamente poucos jovens e muito menos com dinheiro para divertimentos  a 9 euros/hora.
Dito isto, há que louvar a iniciativa de uma empresa privada, que aceita arriscar numa conjuntura muito difícil e numa terra em acentuada decadência. Gosto pelo risco? Simples inconsciência, fruto da inexperiência? Logo saberemos.

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