sexta-feira, 9 de abril de 2021

 




Turismo e campismo

O ERRO DO DESCARTE DO CAMPISMO

António Rebelo

A dada altura, já lá vão mais de dez anos, o então presidente Paiva decidiu que  só interessava a Tomar o turismo cultural ou de qualidade. Agregou o termo "cultural" aos hipotéticos visitantes, quando devia imputá-lo aos recursos disponíveis. Ou seja, a expressão turismo cultural serve para separar dois tipos de turismo. O turismo balnear, cujos praticantes vão para a beira-mar, e o turismo cultural, em que os viajantes percorrem o país, visitando os seus monumentos e outros pontos de interesse.
Desse mal entendido inicial, resultou o descarte e encerramento provisório do parque municipal de campismo, mais tarde tornado definitivo. Tinha sido feito entretanto um misterioso plano de pormenor, até hoje nunca debatido publicamente, assim contrariando o disposto na LEI, o qual impede o funcionamento e a requalificação do referido parque de campismo. Falou-se nessa altura de novas localizações, tipo Machuca e Açude de Pedra. O esquisso do Açude Pedra era mesmo uma pequena maravilha, com ETAR logo à entrada e tudo. Ainda existe?
Uma vez que estas manigâncias tecnocráticas municipais nunca acontecem por mero acaso, embora ainda não se saiba quem encomendou nem quem elaborou o citado plano de pormenor, é evidente que houve a preocupação de acabar com os "caracóis", ou turistas-campistas. Descartaram-se do parque de campismo e pronto. É menos um problema, pensaram então.
Uma vez que, devido aos elevados encargos com pessoal, o parque não era rentável, partiu-se do princípio errado segundo o qual o visitante campista tem poucos recursos e fraco nível cultural, quando as sondagens disponíveis demonstram o contrário. O nível cultural dos turistas-campistas é em média muito mais elevado que o dos outros turistas mais convencionais.
Ainda que assim não fosse, tendo em conta que para outras iniciativas se fala tanto em retorno das verbas investidas, sobretudo no comércio local, afinal quais os visitantes que mais convêm a Tomar? O tal turista cultural, que vai ao Convento, nem sequer desce à cidade, e põe-se a andar para outras paragens mais acolhedoras e com melhores estruturas receptivas? Ou o turista-campista-autocaravanista, que se instala por vários dias, visita o Convento, volta à cidade, visita outros monumentos, vai ao mercado,  percorre as ruas, come, bebe e compra alimentação e/ou souvenirs?
Dez anos depois das asneiras de António Paiva, entre as quais o descarte do parque de campismo, que fez entretanto a actual maioria socialista para as corrigir? Segundo a srª presidente da câmara, no recente lançamento de um novo site para candidatos a visitantes, a autarquia pretende atrair turismo familiar, que fique dois/três dias, e não tanto excursões. É sempre de lastimar quando se ouve falar, com ar sabedor, de coisas que na realidade se ignoram. Os circuitos em grupo já há muito que deixaram de ser as velhas excursões de farnel e garrafão.
Para um artista cantor, basta ter boa voz e bom ouvido. Para um político não chega. O eleitorado começa a estar farto de conversa só para agradar. Já no tempo dos romanos, há vinte séculos, se dizia RES NON VERBA. Obras, não palavras.
Uma cidade turística, sem um bom parque de campismo e caravanismo, é uma asneira monumental. Que apouca as melhores iniciativas promocionais. Ninguém se sente bem a visitar uma cidade sem as infraestruturas mínimas. Você, por exemplo, leitora/leitor, sente-se confortável a passear numa cidade com dificuldades de estacionamento, sem adequada sinalização e sem sanitários públicos? Pois temos autarcas que mostram ainda não ter percebido o que nos falta para atrair mais turistas. E recusam ajudas.
Haja paciência.

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