Insolvência da IFM/PLATEX
A CULPA É SEMPRE DOS OUTROS
Num dos mais recentes diálogos entre o vereador Cristóvão, do PS, e o vereador Delgado, do PSD, que alguma crítica local apelida de "debates Dupont-Dupond", os comparsas abordaram o problema da insolvência da IFM/PLATEX. Normal. A Hertz até intitula a coisa "Especial informação".
Deliberadamente exilado a mais de sete mil quilómetros da Corredoura, mas com a mesma paixão por Tomar, lancei-me na audição do resumo do antes citado debate. Coisa pouca. Cerca de sete minutos. Falta-me a paciência para ouvir a versão integral no YouTube.
Do que percebi, ficou-me a frase destacada pela Hertz para título: "Mais do que nunca, o gestor de insolvência tem um papel crucial no futuro da empresa." Porquê mais do que nunca? Porquê um papel crucial? Porquê "no futuro da empresa" e não no HIPOTÉTICO futuro da empresa?
Creio que só os intervenientes poderão esclarecer. Ou clarificar. Ou completar, consoante os pontos de vista. Entretanto, parece-me importante relembrar que a IFM/PLATEX é apenas o caso mais recente de insolvência na zona de Tomar. Antes já tinham fechado a Fiação, o Prado, a Matrena, FMG e Porto de Cavaleiros, para só mencionar as mais importantes. Houve entretanto também a crise do matadouro regional, felizmente superada.
Os insucessos empresariais, vulgarmente designados falências, são ocorrências normais. Fazem parte daquilo que o economista Schumpeter designa como "destruição criadora", indispensável ao progresso económico, pois é a partir das empresas falidas que podem nascer novas empresas viáveis.
Cabe recordar que nos países anglo-saxónicos, sobretudo nos Estados Unidos, até as grandes cidades (Detroit, por exemplo) e os Estados (a Califórnia, por exemplo) vão à falência. E renascem ainda mais pujantes, mesmo sem a ajuda do governo federal.
Ao contrário, em Portugal, só o Estado e as empresas privadas é que vão à falência. Empresas públicas e autarquias, por exemplo, nem pensar. Os contribuintes pagam tudo. O que resulta no que está à vista, mas poucos querem ver.
Em todos os casos tomarenses antes mencionados, houve três grandes problemas que provocaram as sucessivas insolvências, sem cuja resolução prévia nem adianta falar em recuperação. É bem sabido, desde há séculos, que "as mesmas causas, nas mesmas condições exteriores, produzem sempre os mesmos efeitos."
Problemas ambientais, problemas laborais e problemas industriais, eis a três chagas mortais das agora encerradas empresas tomarenses. Problemas ambientais porque, com as novas exigências governamentais, houve necessidade de acrescentar estações de tratamento, filtros e etc, que vieram tornar mais caros os custos de produção, assim reduzindo a competitividade e limitando as vendas. E sem vendas não há efetivação do valor acrescentado.
Problemas laborais, porque as regalias obtidas após o 25 de Abril acabaram com os operários/agricultores e implicaram grandes aumentos da massa salarial. Pagar 12 meses por ano e passar bruscamente a pagar 14 meses, é um salto demasiado perigoso, que nem todos tinham capacidade para realizar, com o inevitável aumento dos custos de produção.
Terceiro problema, assoberbados com os novos encargos e subsequentes aumentos dos custos de produção, os empresários não conseguiram recursos financeiros para modernizar o aparelho produtivo. E nos casos em que conseguiram, era já demasiado tarde.
Nestas condições, não me parece que o gestor de insolvência da IFM/PLATEX tenha um papel mais crucial que antes. na eventual salvação daquela empresa. Continuará apenas procurando a melhor solução para saldar, na medida do possível, os créditos dos fornecedores e outros, pois para isso foi nomeado.
Depende do governo, como distribuidor dos dinheiros europeus, de alguns organismos governamentais, como entidades fiscalizadoras, e da Câmara, como titular de toda a burocracia local, que é muita e excessiva, dar aos potenciais investidores as garantias antecipadas que procuram.
Por conseguinte, se a PLATEX não for salva, o culpado não será o gestor de insolvência, mas antes o governo e a Câmara. Porque em Portugal é assim que as coisas funcionam, para o bem e para o mal. Nada de sacudir a água do capote. Que cada qual assuma as suas responsabilidades.
Visão lucida, ao contrario dos Duponds, que se limitam ao politicamente correto, e quem falta, por vezes, conhecimento, ou competência.
ResponderEliminarAgradeço a amável referência.
ResponderEliminarCom a idade uma pessoa vai mudando de lentes ideológicas, tendo sempre o cuidado de preservar o essencial -a visão.